sábado, dezembro 22, 2012

O ônus do acerto - IGOR GIELOW

FOLHA DE SP - 22/12


BRASÍLIA - Ao rejeitar a prisão imediata dos condenados pelo mensalão, Joaquim Barbosa mostrou que nem sempre está disposto a se assumir como uma versão tribunal superior do juiz Dredd.

Personagem clássico dos quadrinhos, maltratado em duas adaptações medonhas para o cinema, Dredd vive numa violenta distopia em que magistrados são, ao mesmo tempo, policiais, promotores e executores de pena -invariavelmente duras, geralmente de morte pelas mãos do próprio juiz.

Se foi técnica e merece aplauso, a decisão também tem caráter político. Pois, se calou aqueles que suspeitavam de seu "ativismo", o suspense sobre o que Barbosa faria deu um "calor" nos condenados e seus advogados, que perderam a noção do ridículo e se comportam como vedetes de um teatro do absurdo.

Como tudo na vida, há um ônus mesmo num ato correto. É o fato de que os condenados ganharam talvez dois meses ou mais para eventualmente planejar uma fuga.

Claro que seus advogados vão negar tal hipótese, probos que são seus clientes, e o próprio Barbosa se diz convencido de que a retenção de passaportes seja medida suficiente.

Só que não é. Com dinheiro e contatos, algo que não falta a boa parte dos condenados, qualquer um consegue documentos falsos e se aproveita da porosidade de nossas fronteiras no Sul e na região amazônica.

E para os ideologicamente motivados do bando, a Venezuela chavista, o Equador e o museu dos Castro em Cuba estão logo ali. Como disse um figurão petista em uma festa de fim de ano nesta semana: "Não sei por que eles não vão embora logo".

A possibilidade apavora a Polícia Federal, que ficaria com a conta política de uma fuga. Como não foi incumbida pelo Supremo para, digamos, ter um agente colado em cada condenado, resta à PF confiar no monitoramento de seus serviços de inteligência. E isso pode falhar.

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