CORREIO BRAZILIENSE - 12/12
A política entrou num momento em que os discursos vão para um lado e as ações para o outro. Dos royalties do petróleo às últimas afirmativas do empresário Marcos Valério, condenado no episódio do mensalão, tudo parece meio descompassado, fora de ordem. Vejamos primeiro a votação dos royalties. Os líderes dos partidos preparam uma verdadeira armadilha para os estados não produtores de petróleo, que lutam para ficar com um naco dos dividendos oriundos de contratos já assinados para exploração das jazidas do pré-sal. Ao colocar o veto de Dilma Rousseff à distribuição equitativa desses royalties às vésperas do Natal, as chances de vitória são semelhantes à de atravessar o Eixo Monumental fora da faixa de pedestre entre as 18h e as 19h no meio da semana sem ser atropelado.
Essa é praticamente a última semana de funcionamento do Congresso com “casa cheia”, mas os líderes encontraram um bom discurso para deixar o veto para depois. A presidente Dilma Rousseff está viajando e seria deselegante pôr o tema em pauta na ausência da chefe da Nação. Agora, o desafio está a cargo dos estados não produtores, que ficarão encarregados de mobilizar as bancadas para permanecerem em Brasília na semana que vem e enfrentar o risco de não conseguir um voo de volta para casa antes do Natal.
Geralmente, o Congresso Nacional sempre marca as sessões de apreciação dos vetos para essas ocasiões — isso quando marca. Não por acaso, há 3.060 vetos na fila aguardando análise. Parece proposital. Assim, não se vota ou, se for a votação, a tendência é a manutenção do veto, uma vez que são necessários 257 deputados e 42 senadores para derrubar esses vetos. Por isso, ao deixar para a última semana, fica aquela impressão de que parece proposital.
Por falar em propósitos…
O mesmo vale para os trechos do depoimento do empresário Marcos Valério publicados ontem em reportagem de O Estado de S.Paulo. Para quem não leu ontem, aqui vão uns flashes: depois de condenado na Ação Penal 470 a 40 anos de prisão, Valério disse aos procuradores que, em 2003, depositou recursos na conta da empresa de Freud Godoy, fiel escudeiro de Lula, e que o ex-presidente avalizou os empréstimos ao partido. Ora, fica a pergunta: por que não revelou tudo isso antes? Esperava proteção do STF? Influência do PT no julgamento? Ou floreia agora uma história para ver se tira mais uma lasquinha da imagem de Lula por pura vingança? Ódio por ver o ex-presidente recebido com tapete vermelho pelo mundo afora enquanto ele amargará a prisão? Essas perguntas ainda não têm resposta.
Por enquanto, o que se tem é a oposição pedindo apuração e o PT jurando de pé junto que é tudo mentira de um réu condenado, inconformado com aquilo que o destino lhe reserva. De Paris, Dilma Rousseff inclusive abriu uma exceção na entrevista coletiva — ela detesta tratar de temas domésticos nas entrevistas que concede lá fora. Ao lado do presidente francês, François Hollande, partiu em defesa de Lula e fez questão de frisar que se trata de mais uma tentativa de desgastar a imagem do presidente mais popular da história recente do Brasil.
O discurso de Dilma põe o Planalto de hoje fora dessa história, mas ajuda a reforçar a defesa de Lula e do PT. Também pesa a favor do ex-presidente o fato de Valério ter falado só agora, tanto tempo depois de o escândalo vir à tona, e não ter feito essa referência quando do próprio julgamento no Supremo. A muitos dá a sensação de que perdeu o “timing”. Resta agora investigar se o dinheiro de Marcos Valério foi usado para pagar despesas do ex-presidente. É a única maneira de verificar se atitudes e palavras andam juntas. Espera-se que as autoridades competentes já estejam agarradas nesse serviço a fim de tirar do colo de Lula mais essa bomba.
Por falar em colo…
Hoje, o senador Rodrigo Rollemberg, do PSB, tem reunião marcada com representantes do PSol, do PPS e do PDT do Distrito Federal. Quer conversar sobre Brasília, justamente com parte da oposição ao governo Agnelo Queiroz. Ele que pediu o encontro. Enquanto isso, Luiz Pitiman, do PMDB, recebe o vice-presidente da República, Michel Temer, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), num seminário sobre gestão pública. É 2014 em movimento.
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