FOLHA DE SP - 12/12/12
Novas revelações de Marcos Valério não podem ficar sem investigação, mas cautelosa, porque não se exclui que ataque a Lula seja manobra
Podem resumir-se ao desespero de um condenado as últimas acusações do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza em depoimento ao Ministério Público, divulgadas na edição de ontem do jornal "O Estado de S. Paulo".
Não resta dúvida, porém, de que devem ser investigadas com máxima atenção. Irregularidades e segredos não costumam vir à tona por uma súbita reconciliação de personagens suspeitos com o interesse público; mais corriqueiro é que, em situações extremas, participantes de esquemas escusos decidam exibir em defesa própria o que guardavam a sete chaves.
Foi assim com Roberto Jefferson, quando expôs com minúcia a engrenagem do mensalão. Os nomes revelados pelo presidente do PTB, no início desconhecidos do público, comprovaram-se depois personagens principais do escândalo.
Ocorrerá o mesmo com as denúncias agora divulgadas de Marcos Valério? Segundo o empresário, recursos do mensalão foram canalizados para pagar despesas pessoais do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Além disso, um célebre integrante do círculo íntimo lulista, o ex-presidente do Sebrae Paulo Okamotto, teria feito ameaças a Marcos Valério. Okamotto já havia frequentado o noticiário sobre finanças pessoais de Lula, quando se revelou que pagara, do próprio bolso, dívida do ex-presidente com o PT.
As acusações de Marcos Valério não param aí. Lula teria autorizado pessoalmente os acertos de José Dirceu para empréstimos bancários que azeitaram o mensalão.
Ao lado de Antonio Palocci, o ex-presidente também teria realizado, ainda segundo Valério, entendimentos com o empresário Miguel Horta, da Portugal Telecom, com vistas à transferência de R$ 7 milhões para o caixa do PT.
Tantas revelações do operador do mensalão, condenado a mais de 40 anos de prisão, devem ser recebidas com certa cautela. Não cabe descartá-las, porém, num contexto em que Lula já se enredava noutras denúncias, desvinculadas do mensalão, e o petismo recorria de novo à ideia de que tudo se trata apenas de "campanha política".
Era com frases assim que, no começo do escândalo do mensalão, deputados negavam ter feito saques em dinheiro no Banco Rural. As retiradas se comprovaram -e, na sua esteira, a trama de irregularidades que só agora chegou a ser desbaratada plenamente.
Plenamente? Talvez não, ainda. O sigilo bancário dos envolvidos precisaria ser quebrado -e só o aprofundamento das investigações poderá atestar a inocência, ou não, dos que, a começar pelo ex-presidente Lula, foram por ora poupados no caso do mensalão.
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