FOLHA DE SP - 06/11
Sinais de recuperação da economia, ainda que apenas temporária, ajudam a conter turbulências da transição na cúpula do Partido Comunista
Após quase dois anos de gradual desaceleração no crescimento do PIB da China -de 11% ao ano, no final de 2010, para 7,6%, no terceiro trimestre deste ano-, surgem alguns sinais de estabilização.
A notícia não influenciará a troca decenal de comando no país, que será sacramentada a partir de quinta-feira, no 18º Congresso do Partido Comunista. Mas poderá facilitar a transição de poder para Xi Jinping, o novo presidente ungido pela cúpula da burocracia.
Pela primeira vez desde abril, as expectativas de gerentes da indústria sobre a economia voltaram a ficar positivas. Conta-se com o aumento da produção até o final do ano. Não se descarta que o PIB chinês volte a crescer, no quarto trimestre, ao ritmo de 8% ao ano.
A debilidade recente do ímpeto chinês resultou em parte do aperto do crédito pelo governo, com auge em 2011. O foco era reduzir a inflação, que superava 6% ao ano, e os altos preços de imóveis, vistos como ameaça à ordem social.
O mercado imobiliário foi o setor mais afetado, com forte redução de construção e vendas nos últimos dois anos. Mas o setor industrial também sofreu com a letargia da demanda nos Estados Unidos e na Europa, que prejudicou as exportações, outro vetor decisivo de crescimento na China.
O cenário melhorou um pouco nos últimos meses. A inflação de preços ao consumidor caiu para 2% ao ano no segundo trimestre, e o governo pôde adotar medidas expansionistas, como cortes de juros, estímulos ao crédito e novos projetos de infraestrutura.
Arrefecem assim, por ora, os temores de um pouso acidentado, que poderia ter consequências globais nefastas. Permanece quase intocada, contudo, a fragilidade estrutural da economia chinesa -crescimento turbinado com crédito barato da década anterior, excesso de capacidade produtiva e grande estoque de dívidas.
São cada vez mais numerosos os alertas de cidades superendividadas e de setores inteiros -siderúrgicas, petroquímica, energia solar, estaleiros- que só se mantêm à tona com novas rodadas de favores dos bancos oficiais e de grandes projetos estatais.
O desafio para o novo governo chinês é reequilibrar a economia. Para tanto, precisa reduzir sua dependência do investimento público e do crédito subsidiado e aumentar a participação do consumo doméstico. É difícil conceber essa transição sem sobressaltos, pois implicaria distribuir melhor pela população os dividendos da pujança chinesa -e, com isso, contrariar interesses incrustados na burocracia do partido.
A aceleração do crescimento do PIB para 8%, assim, será temporária; o próprio governo prevê média de 7% anuais até 2016. Já seria ótimo resultado, pois a perspectiva mais realista, diante das limitações intrínsecas ao modelo chinês, é a de taxas ainda menores.
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