FOLHA DE SP - 15/10
Mesmo no mercado brasileiro, a indústria não consegue concorrer com os produtos importados
Está em crise séria, talvez terminal, a inserção na economia mundial que o Brasil sempre desejou e planejou: a da exportação de manufaturas de crescente valor agregado. O que sustenta as contas externas é a outra inserção, não planejada e até indesejada por alguns: a das commodities.
Parecia no início que estava dando certo a estratégia de utilizar os ganhos de escala no Mercosul e na América Latina a fim de proporcionar à indústria nacional a competitividade nos mercados globais.
Mesmo nos melhores tempos, porém, a operação jamais ultrapassou a fase mais fácil: a do domínio do mercado nacional protegido e de alguns mercados latino-americanos, de forma parcial, em razão das preferências de acordos regionais.
Aumentou-se a exportação de manufaturados aos EUA devido à política das multinacionais americanas de produzir no Brasil e países de custo mais baixo. Mas isso foi antes que os acordos de livre-comércio tornassem o México o destino principal desses investimentos. Em relação à Europa e à Ásia, a penetração de manufaturas brasileiras foi sempre marginal.
Não tendo chegado a se completar, a estratégia sofre agora retrocessos. Primeiro, na América Latina, onde estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) revela que em todos os nove países examinados, da Argentina à Venezuela, a parcela de mercado das vendas brasileiras encolheu ao longo do período de 2008 a 2011. A culpa não foi da crise mundial, pois nossos competidores tiveram desempenho superior, a China crescendo em todos os mercados.
Outro dado interessante é que, no primeiro trimestre de 2012, as exportações do Mercosul se expandiram em 7,5% para o resto do mundo, ao passo que diminuíam em 5,5% no interior do grupo. O resultado apenas confirma o que ocorre há anos: o comércio intrarregional está regredindo, já que o mercado para as commodities exportadas pelos membros se encontra basicamente na China e na Ásia.
O quadro não surpreende, uma vez que mesmo no mercado brasileiro a indústria não consegue concorrer com os importados. Em reação, o governo anuncia ofensiva para recuperar a competitividade interna atuando sobre juros, câmbio, crédito e o custo Brasil.
Falta à abordagem condição indispensável para funcionar: a estratégia que assegure um mínimo de concorrência externa.
A concorrência exterior não é luxo que possa esperar até sermos competitivos. Desde que não seja desleal, é essencial para conquistar a competitividade. Sem ela, o destino da indústria é o da lei de informática e da reserva de mercado automobilística.
Ao elevar alíquotas de cem produtos, o governo age como se pudesse descer do expresso do comércio mundial a fim de abordá-lo mais adiante. Quando? Mais 50 anos por causa dos automóveis? Quem nos garante até lá, as commodities e o pré-sal?
As primeiras dependem do setor ineficiente para seus insumos, caminhões, por exemplo, para transportar a safra e acabam perdendo a vantagem de custo.
Quanto ao pré-sal, parece que lhe rogaram praga, tantos os desastres que o comprometem. Se depois de tudo conseguirmos voltar ao vagão, será que nosso lugar não estará ocupado pelos concorrentes?
Está em crise séria, talvez terminal, a inserção na economia mundial que o Brasil sempre desejou e planejou: a da exportação de manufaturas de crescente valor agregado. O que sustenta as contas externas é a outra inserção, não planejada e até indesejada por alguns: a das commodities.
Parecia no início que estava dando certo a estratégia de utilizar os ganhos de escala no Mercosul e na América Latina a fim de proporcionar à indústria nacional a competitividade nos mercados globais.
Mesmo nos melhores tempos, porém, a operação jamais ultrapassou a fase mais fácil: a do domínio do mercado nacional protegido e de alguns mercados latino-americanos, de forma parcial, em razão das preferências de acordos regionais.
Aumentou-se a exportação de manufaturados aos EUA devido à política das multinacionais americanas de produzir no Brasil e países de custo mais baixo. Mas isso foi antes que os acordos de livre-comércio tornassem o México o destino principal desses investimentos. Em relação à Europa e à Ásia, a penetração de manufaturas brasileiras foi sempre marginal.
Não tendo chegado a se completar, a estratégia sofre agora retrocessos. Primeiro, na América Latina, onde estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria) revela que em todos os nove países examinados, da Argentina à Venezuela, a parcela de mercado das vendas brasileiras encolheu ao longo do período de 2008 a 2011. A culpa não foi da crise mundial, pois nossos competidores tiveram desempenho superior, a China crescendo em todos os mercados.
Outro dado interessante é que, no primeiro trimestre de 2012, as exportações do Mercosul se expandiram em 7,5% para o resto do mundo, ao passo que diminuíam em 5,5% no interior do grupo. O resultado apenas confirma o que ocorre há anos: o comércio intrarregional está regredindo, já que o mercado para as commodities exportadas pelos membros se encontra basicamente na China e na Ásia.
O quadro não surpreende, uma vez que mesmo no mercado brasileiro a indústria não consegue concorrer com os importados. Em reação, o governo anuncia ofensiva para recuperar a competitividade interna atuando sobre juros, câmbio, crédito e o custo Brasil.
Falta à abordagem condição indispensável para funcionar: a estratégia que assegure um mínimo de concorrência externa.
A concorrência exterior não é luxo que possa esperar até sermos competitivos. Desde que não seja desleal, é essencial para conquistar a competitividade. Sem ela, o destino da indústria é o da lei de informática e da reserva de mercado automobilística.
Ao elevar alíquotas de cem produtos, o governo age como se pudesse descer do expresso do comércio mundial a fim de abordá-lo mais adiante. Quando? Mais 50 anos por causa dos automóveis? Quem nos garante até lá, as commodities e o pré-sal?
As primeiras dependem do setor ineficiente para seus insumos, caminhões, por exemplo, para transportar a safra e acabam perdendo a vantagem de custo.
Quanto ao pré-sal, parece que lhe rogaram praga, tantos os desastres que o comprometem. Se depois de tudo conseguirmos voltar ao vagão, será que nosso lugar não estará ocupado pelos concorrentes?
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