Numa linha diferente da maioria dos economistas que acreditam em leis "naturais" -o que sugere a liberdade para os mercados- e de outros que supõem leis "históricas" que inevitavelmente se realizam, dois gigantes dos séculos 19 e 20, Knut Wicksell (1851-1926) e John Maynard Keynes (1883-1946) sabiam que o homem não tinha um destino dado.
Para Wicksell ("Saggi di Finanza Teorica", 1896), o "último objetivo (...) é a igualdade de todos diante da mesma lei, a maior liberdade possível, o bem-estar econômico e a cooperação pacífica entre todos" -um programa que implicava na educação financiada pelo Estado, na criação de seguro-saúde, na tributação progressiva e num imposto sobre herança destinado a criar um fundo para educar jovens trabalhadores a se aperfeiçoarem e a se firmarem na vida.
Para Keynes ("The End of Laissez-Faire", 1926), "era preciso pôr, desde logo, às claras o princípio metafísico sobre o qual fundou-se o 'laissez-faire'. Não é verdade que os indivíduos detenham uma liberdade natural na sua atividade econômica. Não existe 'contrato' que confira direitos perpétuos àqueles que possuem bens ou os adquiram. O mundo não é governado do alto, de forma que o interesse privado e o interesse social sempre coincidam. Ele não é, tampouco, dirigido aqui em baixo, de forma que os façam coincidir na prática. Não é correto, portanto, deduzir dos princípios da economia que o interesse individual trabalha sempre a favor do interesse público".
Wicksell e Keynes têm em comum a ideia de um processo civilizatório que deve se apoiar na racionalidade, na cooperação e na justiça, no seio de instituições que garantam o exercício da plena liberdade individual.
Uma questão interessante é saber como se mede o avanço do processo civilizatório: se é pelo comportamento do agente ativo das políticas públicas que obedece aos cânones de uma suposta ciência econômica, combinada com o liberalismo político, ou se é consultando os agentes passivos daquelas políticas.
Pesquisa do Pew Research Center intitulada "O desânimo permanente sobre a economia mundial", realizada em 21 países e com consulta a 26.210 indivíduos entre 17 de março e 20 de abril de 2012, deixa a questão sem resposta.
No estudo, lê-se: "As pessoas podem pensar que a sua situação é melhor do que a situação econômica dos seus países, mas apenas no Brasil (72%) e na China (70%) larga maioria acredita que suas famílias estão melhores hoje do que há cinco anos". No México, 30%; nos EUA, 27%; na Alemanha, 23%; no Japão, 11%; e, na Espanha, 9%. Isso deveria ser um sinal amarelo para alguns de nossos arrogantes "cientistas".
Nenhum comentário:
Postar um comentário