Quem olhar só os números achará que o governo Barack Obama aumentou o desemprego, o déficit e a dívida. Mas quem sabe o que se passou na história recente americana entende que estourou no colo do presidente uma bomba de efeito retardado. Os republicanos, claro, apresentaram só os números em sua convenção. Os democratas tentaram contextualizar a crise.
Na comparação das duas convenções, um fato salta aos olhos. Os republicanos não levaram o ex-presidente deles. George Bush atrapalharia. Os democratas deram o momento de honra ao ex-presidente deles. Coube a Bill Clinton oficializar a candidatura de Obama num discurso em que esbanjou charme e argumentos. Clinton tem mais popularidade que Obama e sua presença traz a lembrança dos velhos e bons tempos.
Nos anos dourados de Clinton houve quase pleno emprego, a economia aumentou a produtividade, o país teve superávit, a dívida bruta caiu para 54%. Essa herança foi dilapidada por Bush, que teve déficit todos os oito anos, pelos enormes custos das duas guerras que iniciou.
Quem olhar o desemprego e não souber do contexto achará a administração Obama um desastre. A taxa salta de 6% para quase 10% no primeiro ano de governo. Mas isso foi uma crise herdada. Clinton repôs o contexto. Lembrou que nas seis semanas antes de Obama ser eleito o país viveu o pior crash desde a Grande Depressão. E fez outra conta:
— De 1961 para cá, os republicanos governaram o país por 28 anos, e os democratas, por 24 anos. Nesse período, foram criados 66 milhões de empregos: 24 milhões pelos republicanos e 42 milhões pelos democratas.
Ele creditou essa diferença aos valores do Partido Democrata. A diversidade, as oportunidades iguais, a rede social
são, disse Clinton, boas para a economia. O que não disse é que Obama conquistou avanços, mas ficou aquém da revolução
que prometeu ser. Na política é assim. Cada um conta sua verdade conveniente. Lá e cá. A briga entre o ex-presidente Fernando Henrique e a presidente Dilma mostrou isso. FH errou ao tentar separar Lula e Dilma. A presidente não estaria em sua cadeira se não fosse Lula. Ela tem inegáveis méritos, mas sem Lula sequer seria escolhida pelo partido.
Quando respondeu, a presidente desafinou. O país não estava sob intervenção do FMI quando FH entregou o governo. Fora pedido um empréstimo ao Fundo para ser quase todo liberado no governo Lula. Era para ajudar a transição. A fuga de capitais era medo do velho programa econômico do PT, em boa hora abandonado. Não havia risco de apagão em 2003. Houve em 2001. Quando Lula assumiu, o problema estava resolvido.
A nota da presidente ataca FH, mas não rebate seus argumentos. Fernando Henrique, por sua vez, ataca a “crise moral”, mas no caso de Eduardo Azeredo o PSDB o defendeu e, na época, o manteve na presidência do partido. Dilma disse que Lula é “um democrata que não caiu na tentação de mudança constitucional que o beneficiasse”. FH carregará sempre o peso de ter aprovado a reeleição no meio do mandato, mas o PT no poder não a aboliu.
Dilma disse ter recebido “uma economia sólida, com crescimento robusto, inflação sob controle, investimentos consistentes em infraestrutura e reservas cambiais recordes”. As reservas eram recorde, a inflação estava sob controle porque foram mantidas as bases do Plano Real de FH. Os investimentos em infraestrutura foram baixos nos dois governos. Agora, se o crescimento era mesmo “robusto”, a culpa do pibinho dos últimos dois anos recai inteiramente sobre ela. E essa ideia não é conveniente para a governante.
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