quinta-feira, setembro 27, 2012

Mais ação que paixão - PAULA CESARINO COSTA


FOLHA DE SP - 27/09

RIO DE JANEIRO - "Como entender o Rio, sem um pouco de loucura?", escreveu José Murilo de Carvalho em um artigo sobre a cidade na primeira década da República -fim do século 19.

O conselho do historiador serve para olhar o momento por que passa a metrópole e desvendar o espírito do carioca.

Loucura e transformação caminham lado a lado do ponto de vista histórico. Podem recriar ou destruir uma cidade e o caráter de seu povo.

Mesmo durante suas décadas perdidas -com estagnação econômica, fuga de empresas e de cérebros, explosão da violência, degradação urbana, desimportância política-, o carioca manteve a autoestima, construída à base do humor.

Com a invenção das UPPs para o combate ao tráfico em favelas, a descoberta de petróleo no pré-sal e a conquista da sede da Olimpíada de 2016, o otimismo carioca virou febre.

A cidade está em reconstrução. São bilhões de reais investidos na ampliação do metrô, na expansão de corredores para ônibus, na recuperação da região portuária, com escavação de túneis, descoberta de tesouros arqueológicos e criação de museus.

São obras para orgulhar e enlouquecer qualquer cidade, ainda mais quando feitas simultaneamente.

Mas o segundo maior e mais rico município brasileiro tem mais de 22% dos habitantes -1,4 milhão- morando em casas precárias, sem coleta de lixo, com esgoto a céu aberto.

A loucura e a paixão do carioca por sua cidade são, em parte, responsáveis pelo bom momento atual. Porém não podem cegá-lo em relação ao desmando administrativo, à gestão precária, ao interesse político funesto, ao serviço público ineficiente.

Como escreveu o historiador, "a tarefa de construir uma República no sentido político continua a desafiar até hoje os cariocas, neste Rio que não é mais corte nem capital federal".

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