FOLHA DE SP - 24/09
Comitê Rio 2016 diz ser pautado pela transparência, mas omite detalhes cruciais sobre caso de desvio de dados
O COMITÊ Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, comandado por Carlos Arthur Nuzman e que tem Leonardo Gryner como diretor-geral, afirmou em nota oficial que é pautado pelos princípios da ética, responsabilidade e transparência. Entretanto, omitiu por cerca de 40 dias o envolvimento de dez de seus funcionários no desvio de informações do Comitê Organizador dos Jogos de Londres 2012 (Locog, na sigla em inglês).
Os membros da organização brasileira se esquivam de vir a público para dar esclarecimentos mais precisos de como se deu o ato criminoso. Aliás, é bom lembrar que o caso só foi revelado pela atitude do colunista da Folha Juca Kfouri, que obteve as informações e as colocou em seu blog no UOL.
Os meios de comunicação apontam que dez funcionários do Rio 2016 foram afastados, mas faltam detalhes cruciais, mantidos a sete chaves pela organização olímpica. O principal deles: quem teria dado a ordem para a operação criminosa? Quem teria dirigido a patética ação? Os dez envolvidos, que trabalhavam em áreas distintas, agiram por iniciativa própria numa tremenda coincidência? Ou foi uma operação organizada para colher informações de vários setores? Houve ou não risco de tais informações terem chegado às mãos de terceiros, que poderiam tentar vendê-las ao próprio Comitê Rio 2016? A falta de transparência num caso dessa natureza só faz alimentar dúvidas e suspeitas.
A mídia internacional noticiou a descoberta dos desvios, a primeira mancha na, até então, aparentemente segura e tranquila organização dos Jogos no Rio. O governo federal, que investe bilhões na Olimpíada, não se manifestou sobre o caso. E o Ministério do Esporte, sob direção de Aldo Rebelo, informou que não comentará. Incrível é que o mesmo Rebelo, durante os Jogos de Londres, não vacilou em palpitar, inclusive, em desempenho possível do time nacional no Rio. Mas lá, creio, tudo era festa, fantasia.
A curta nota do Comitê Rio 2016 basicamente confirmou a denúncia do blog e acrescentou que contou com 200 representantes em Londres por ocasião da Olimpíada e da Paraolimpíada, disputadas entre 27 de julho e 13 de setembro. "Os envolvidos foram identificados e as lideranças do Rio 2016 e do Locog agiram de forma conjunta, coordenada e rápida para reparar a situação. Todos os arquivos foram recuperados e devolvidos." E os envolvidos desligados. O crime foi identificado na Olimpíada, mas o grupo ficou em Londres até a conclusão dos trabalhos e só foi demitido no Brasil.
O encontro de novembro, no Rio, no qual haverá apresentações sobre a experiência de organização dos Jogos de Londres, já tem um tema desafiador: os riscos da transferência de conhecimento. Das informações ilegais, é claro! E do golpe brasileiro.
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