FOLHA DE SP - 24/09
Os salários têm de crescer mais devagar, e os lucros, mais depressa. Um candidato a presidente que anunciasse essa plataforma estaria cavando a própria cova. Pois eis o fundamento recôndito da “nova” política econômica do governo Dilma Rousseff, o “Dilmanomics”.
Não há outra saída para o Brasil elevar sua capacidade de crescimento, diga-se a favor da correção de rota ambicionada pela presidente. Juros mais baixos, dólar um pouco mais alto e despesa pública um tiquinho mais controlada fazem parte do pacote, o que é bom de todo jeito.
Já da tolerância com a inflação não se diga o mesmo. Ela “ajuda” a corroer o poder de compra dos salários, uma vitória de Pirro -com escassez de mão de obra, a competição no mercado de trabalho compensa, quando não reverte, aquela corrosão.
Mas é difícil combater a deterioração da capacidade de competir das empresas brasileiras causada pela inflação, ano após ano superior à de nações que fazem comércio conosco.
No plano da grande política, estamos diante de mais uma tentativa de aliança profunda entre o governo e o empresariado não financista. E de um distanciamento relativo entre governo e sindicatos.
Dilma, com seu DNA brizolista e seu desengajamento da guerra entre as correntes do PT, talvez seja mais talhada para a missão que Lula. Algo muda, entretanto, no movimento sindical, com segmentos escapando das mãos da CUT e da Força Sindical -e, assim, da cooptação estatal, antiga arma do varguismo reabilitada pelo PT no poder.
Num segundo momento, o alinhamento entre empresários e governo terá de ser qualificado e problematizado. Pois os lucros dos setores beneficiados pelo boom chinês há mais de uma década -o campo, a mina e o poço- terão de crescer mais devagar que o de outros segmentos produtivos. Isso se “Dilmanomics” for algo para levar a sério
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