RIO DE JANEIRO - Leio na "Ilustríssima" (26/8) que a passagem do arquiteto suíço-francês Le Corbusier pelo Brasil, em 1929, influenciou muita gente boa por aqui. Di Cavalcanti, por exemplo, que subiu com ele aos morros do Rio e lhe apresentou uma ou duas mulatas para 500 talheres, teria aderido ao cubismo por sua inspiração. Portinari, idem.
Em seu livro "O Engenheiro", de 1945, João Cabral de Melo Neto teria tentado fazer em poesia o que Le Corbusier fazia na arquitetura: "O engenheiro sonha coisas claras:/ superfícies, tênis, um copo de água". Manuel Bandeira, com seu chapéu de cronista, também escreveu entusiasmado sobre o arquiteto. E pode-se calcular o impacto de Le Corbusier sobre a cabeça de jovens como Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy e Oscar Niemeyer.
Dos croquis de Le Corbusier para seus projetos brasileiros Lucio tirou a ideia do Plano Piloto de Brasília; Reidy, a do conjunto habitacional Pedregulho, em São Cristóvão, no Rio; e Niemeyer, a do edifício Copan, em São Paulo. E, da estética dos morros cariocas, como vistos por Le Corbusier, até Hélio Oiticica, dali a décadas, produziria uma harmonia do caos sobre as favelas.
Tudo isso é muito bom. E melhor ainda porque Le Corbusier não conseguiu emplacar entre nós sua ideia fixa: minhocões. Em São Paulo, queria cortar a cidade com dois viadutos de 45 km cada, sobre pilotis, que se cruzariam no centro, com 15 andares de apartamentos por cima, além de rampas, garagens, elevadores para carros e hangar para hidroaviões. No Rio, o viaduto teria aquilo tudo em cima e seria na forma de uma centopeia que serpentearia da praça Mauá a São Conrado, com braços e pernas se esgueirando pelos bairros -ufa, veja do que escapamos.
Daí, viva o Le Corbusier que nos encantou. E cujos projetos para nossas cidades, graças a Deus, ficaram no papel.
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