quinta-feira, setembro 13, 2012
Dinheiro não é tudo - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 13/09
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está sendo insistentemente pressionado a "fazer algo mais" para reverter o alto nível de desemprego nos Estados Unidos, que vai atingindo 8,1% da força de trabalho. Não é desprezível a probabilidade de que hoje, após a reunião do comitê de política monetária, seu presidente, Ben Bernanke, anuncie nova rodada de expansão de moeda.
O Fed vem inchando dramaticamente seu balanço com compras de ativos (especialmente títulos), mecanismo pelo qual injeta dinheiro no mercado. Desde 2008 já emitiu US$ 2,3 trilhões (veja histórico de medidas tomadas pelo Fed, na tentativa de recolocar em movimento a economia americana).
Alguns críticos insistem em que essas operações não alcançam o efeito pretendido. A economia cresce pouco e o desemprego segue lá em cima. Bernanke tem respondido que, não fossem as intervenções do Fed, o desastre seria descomunal. Portanto, essas operações produziram, sim, argumenta ele, efeitos muito importantes.
A questão seguinte consiste em saber se mais emissões de moeda mudarão significativamente as coisas. E é aí que as dúvidas persistem.
O que talvez não esteja sendo levado em conta é o fato de que, nas circunstâncias, o único objetivo dos grandes bancos centrais é o aumento do emprego e não propriamente a estabilidade do valor da moeda (controle da inflação). E o aumento do emprego está esbarrando em importante revolução, a da redistribuição global do trabalho, promovida tanto pela incorporação da mão de obra dos emergentes (especialmente asiáticos) quanto pelo uso intensivo de tecnologia da informação, ferramenta que dispensa contratação de pessoal.
A importância dessa redistribuição do mercado internacional do trabalho foi percebida antes da crise pelas grandes centrais sindicais dos países avançados, manifestadas por meio de queixas recorrentes de que o crescimento do comércio exterior vinha gerando mais empregos na China e fechando postos de trabalho no Ocidente. No entanto, enquanto o PIB dos países industrializados crescia entre 3% e 4% ao ano, esse fenômeno foi entendido como chorumela dos dirigentes sindicais. Agora se vê que essa redução do emprego nos países avançados pode ter vindo para ficar, sobretudo depois que o empresário percebeu que pode produzir mais com menos gente, bastando, para isso, que invista mais em tecnologia da informação.
Outra explicação para a aparente falta de eficácia da ação dos grandes bancos centrais foi, em parte, apontada pelos economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, no livro This time is different. De modo resumido, diferentemente do que aconteceu nas grandes crises anteriores, desta vez a pronta e rápida ação dos bancos centrais amorteceu o ajuste. Em contrapartida, exigiu mais tempo para a distribuição da conta.
A questão principal não é técnica. As consequências do desemprego são exasperantes. Por mais que se argumente que os grandes bancos centrais não têm a força que lhes é atribuída, os políticos e todo o mercado financeiro querem mais ação. Quando nada, querem sentir, pelo menos por certo tempo, a impressão de que alguma coisa pode mudar. E é a esse tipo de pressão que Bernanke deve hoje responder.
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