FOLHA DE SP - 25/08
Maior parte das ideias de Paul Ryan, vice da chapa republicana, parece ter origem em obras de ficção
Até agora, a maior parte das discussões sobre Paul Ryan, indicado para a vice-presidência na chapa republicana, vem se concentrando em suas propostas orçamentárias.
Ryan é um homem de muitas ideias. Em seu caso, porém, a maior parte parece vir de obras de ficção, especificamente do romance "A Revolta de Atlas", de Ayn Rand.
Para alguém que não tenha lido o livro na juventude, "A Revolta de Atlas" é uma fantasia em que pessoas produtivas deixam de prestar serviços a uma sociedade ingrata.
O cerne da novela é um discurso de 64 páginas de John Galt, o líder da elite enfurecida -e até Friedrich Hayek admitiu que não conseguiu ler o trecho até o final.
O livro está entre os eternos favoritos dos garotos adolescentes, e a maioria deles termina por superar essa fase. Mas alguns mantêm a dedicação à obra pelo resto da vida. E Ryan está entre esses últimos.
É verdade que ele vem tentando minimizar sua fidelidade a Rand, definindo-a como "lenda urbana".
Mas Ryan não está sendo franco. Em 2005, ele discursou na Atlas Society, dedicada a promover as ideias de Rand, afirmando que a escritora havia inspirado sua carreira política: "Se eu tivesse de creditar um pensador, uma pessoa, seria Ayn Rand". Ryan acrescentou que os livros de Rand eram leitura obrigatória para sua equipe e estagiários.
E o programa fiscal de Ryan reflete claramente os conceitos de Rand. Ele é muito sério quanto a reduzir os impostos dos ricos e cortar a assistência aos pobres, da mesma maneira que Rand reverencia as pessoas bem sucedidas e despreza os "sanguessugas".
Esse último aspecto é importante: ao propor cortes draconianos em programas que ajudam os necessitados, Ryan não procura apenas maneiras de economizar dinheiro. Também está tentando, explicitamente, dificultar a vida dos pobres -e para o bem desses.
Em março, ele declarou que "não queremos fazer da rede de segurança uma rede de varanda, que leve pessoas capazes de trabalhar a vidas de dependência e complacência, privando-as da força de vontade e do incentivo para fazerem o melhor que puderem em suas vidas".
Eu não acho que os americanos forçados a depender de benefícios e assistência alimentar, em uma economia deprimida, sintam que estão tirando uma soneca na rede.
Mas há ainda mais: "A Revolta de Atlas" aparentemente também determinou as visões de Ryan sobre política monetária, e ele se apega a elas a despeito de suas previsões terem fracassado repetidamente.
Isso importa? Bem, se os republicanos vencerem, Ryan certamente será uma força influente no próximo governo -e tenham em mente que ele estaria a um passo da Presidência. Portanto, o fato de que as visões monetárias de Ryan, se implementadas, ajudariam muito a recriar a Grande Depressão deveria, sim, nos preocupar.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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