A presidente Dilma Rousseff equilibra-se entre uma imagem popular de técnica que quer dar ao governo uma gestão eficiente e desvinculada da politicagem, e a necessidade de manter unida uma base partidária aliada que em comum tem apenas a disputa pelos espaços de poder.
Quanto mais a presidente se afasta dos políticos, mais cresce sua popularidade, e por isso soa bem aos ouvidos da classe média o anúncio de que ela não se meterá na campanha municipal.
O que a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, omitiu, por razões óbvias, ao anunciar, meio que ao acaso, que a presidente não pretende se envolver na campanha eleitoral, é que ela não fará isso publicamente.
Mas já há digitais dela em diversas negociações do PT, desde a polêmica adesão de Paulo Maluf à candidatura de Fernando Haddad em São Paulo até a entrada do governo na disputa da prefeitura de Belo Horizonte, nacionalizando a disputa contra o senador Aécio Neves, o provável candidato tucano à Presidência da República em 2014.
Maluf indicou para a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, que já é comandado pelo PP, o engenheiro Osvaldo Garcia, que é ligado, mas não filiado, ao PP paulista, negociação que teve a autorização direta da presidente Dilma para que o acordo feito por Lula fosse oficializado. Só depois da nomeação, Maluf posou com Lula nos jardins de sua mansão paulistana para celebrar o acordo.
Em Salvador, a nomeação do ex-senador César Borges, do PR ,para uma vice-presidência do Banco do Brasil selou o compromisso de apoio ao candidato do governador petista Jaques Wagner. E encerrou o projeto de fazer uma diretoria técnica no Banco, embora o ex-governador e ex-senador baiano César Borges seja um dos políticos mais preparados de sua geração.
No caso de Belo Horizonte, a importância da disputa para o governo fica bem definida pelo fato de que a presidente Dilma Rousseff tratou da questão no próprio Palácio do Planalto, em uma reunião onde estavam presentes o presidente do PT, Rui Falcão, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o vice-presidente da República, Michel Temer, que compareceu mais na condição de presidente do PMDB.
Quem conduziu a conversa foi a própria presidente, que disse que o PT estava com a ideia de lançar o ex-ministro e ex-prefeito de Belo Horizonte Patrus Ananias para disputar a prefeitura, depois que a aliança entre o PT, o PSB e o PSDB que elegera Marcio Lacerda se desfizera.
Para se ter uma noção exata do papel da presidente Dilma nesse episódio, é preciso relembrar que o ministro Fernando Pimentel é inimigo de Patrus Ananias na política local e estivera na convenção que lançou Marcio Lacerda à reeleição para apoiar sua candidatura.
Também Dilma Rousseff, que é mineira de nascença, mas fez sua vida política no Rio Grande do Sul, estivera recentemente em Belo Horizonte para inaugurações e classificou Lacerda de "o melhor prefeito do Brasil".
Pimentel, que é talvez o ministro mais ligado à presidente Dilma, mas vive uma espécie de inferno astral, sendo investigado pelo Conselho de Ética da Presidência da República, não apenas engoliu a candidatura de Patrus como participou da negociação com o PMDB para fortalecer a chapa petista em Belo Horizonte.
Na reunião, foi proposta a Michel Temer a vice na chapa petista, o que levaria o PMDB a desistir da candidatura própria de Leonardo Quintão.
A própria presidente pediu que Michel Temer ajudasse nessa empreitada. Temer viu a ocasião como ideal para reafirmar a lealdade do PMDB ao esquema político do governo, mas alegou que só poderia conversar com o PMDB de Belo Horizonte nesses termos se pudesse dizer que esse era um projeto também da presidente da República.
Dilma, a princípio, relutou, alegando que talvez não fosse bom que essa intervenção pessoal fosse explicitada, ao que o vice-presidente Michel Temer ponderou que não poderia pedir a um companheiro que desistisse de uma candidatura sem explicitar o seu empenho pessoal e o da presidente.
E assim foi feito. A negociação de ministério é da seção mineira do PMDB. A própria presidente queria que ficasse estrita a um cargo federal em Minas Gerais, mas coube ao ministro Fernando Pimentel negociar um posto federal em Brasília.
O que está obrigando a presidente Dilma a explicitar suas ações políticas é a eleição municipal, onde não é possível fechar acordos sem o compromisso político formal das partes interessadas.
E interessa ao PMDB que as negociações sejam assumidas de forma clara, para que seu papel nelas fique registrado.
Na definição de um dirigente do partido, "em eleição, não dá para ser clandestino, ficam as digitais. Sempre foi assim, agora então, com esses equipamentos digitais que existem, você é fotografado, gravado, não existe mais segredo".
Além disso, interessa ao PMDB marcar sua posição no governo federal para que, quando chegar a hora, tenha crédito para manter-se como partido prioritário na aliança com o PT no plano nacional.
O PMDB procura tirar de seu horizonte uma disputa por espaços com o PSB, e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, já foi procurado por um emissário da direção nacional do partido, que lhe garantiu que não há nada do PMDB contra o PSB.
Enquanto considera que ainda é muito cedo para discutir a sucessão de 2014, o PMDB trata de consolidar sua posição para mostrar-se um parceiro confiável. Mais confiável pelo menos que o PSB, que ensaia lances próprios.
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