Ainda estou em Paraty e hoje participo de uma mesa sobre o tema "Em família", com os escritores Dulce Maria Cardoso e João Anzanello Carrascoza, mediada por João Cezar de Castro Rocha. Como ultimamente tenho frequentado muito os anos 40, vou falar das relações familiares nessa época, que reúne dois acontecimentos importantes: o Estado Novo e a II Guerra Mundial. Se a década de 70 foi a dos "anos de chumbo", a de 60 os "anos rebeldes" e a de 50 os "anos dourados", a de 40 pode ser chamada de "anos ocultos". Não é um período muito estudado e, no entanto, é um laboratório para a observação do conservadorismo moral, que começa a ser abalado nas décadas seguintes, mas sem desaparecer inteiramente. Como diz Cacá Diegues, "são costumes que a gente pensa que acabaram, mas que ainda estão vivos pelas províncias, pelos subúrbios, pelas periferias". São tempos de recato e pudor, mas também de dissimulação e hipocrisia, em que o importante era parecer, mais do que ser.
O modelo de formação familiar era o patriarcal, com o casamento tido como união indissolúvel. Os papéis eram bem definidos, com o pai como provedor único e a mãe, dona de casa que só eventualmente contribuía para o sustento da família, costurando ou cozinhando para fora. Os preconceitos, estigmas e tabus, tanto sexuais quanto morais e sentimentais, comandavam rigorosamente a conduta dos membros de uma família. Os valores cultivados como virtudes - a fidelidade, a obediência, a virgindade (o mito do hímen, o "bem mais precioso de uma moça", como se dizia) - e os desvios: o incesto, a pedofilia, o adultério (Nelson Rodrigues dizia que "não existe família sem adúltera"), a separação, o desquite, o divórcio.
Antes da lei do divórcio, em 1997, os desquitados podiam recorrer ao casamento no Uruguai, inclusive mediante procuração, pois lá o desquite brasileiro era aceito como divórcio. Isso atenuava o estigma dos unidos por consenso, os "amigados", o que na cultura popular atingia especialmente a mulher, isto é, a "amante", essa ameaça de destruição dos lares. As famílias repletas de zonas de sombra, de armários trancados: a tia que deu um mau passo, ficou mal falada e nunca mais namorou ninguém; o solteirão de hábitos estranhos que alega não ter se casado para cuidar da mãe; o filho que cada vez mais se parece com o tio, cunhado da mãe; o bebê que deveria sair louro e saiu da cor do único amigo negro da família.
O que mudou dos anos 40 para estes tempos pós-modernos de aparente dissolução dos costumes? Uma pesquisa recente apresenta uma curiosa revelação: a família brasileira é uma das instituições mais valorizadas. E não por ter ficado mais careta, mas, ao contrário, porque aumentou sua tolerância com temas como virgindade e homossexualismo. Com exceção do que se passa no Brasil profundo.
O modelo de formação familiar era o patriarcal, com o casamento tido como união indissolúvel. Os papéis eram bem definidos, com o pai como provedor único e a mãe, dona de casa que só eventualmente contribuía para o sustento da família, costurando ou cozinhando para fora. Os preconceitos, estigmas e tabus, tanto sexuais quanto morais e sentimentais, comandavam rigorosamente a conduta dos membros de uma família. Os valores cultivados como virtudes - a fidelidade, a obediência, a virgindade (o mito do hímen, o "bem mais precioso de uma moça", como se dizia) - e os desvios: o incesto, a pedofilia, o adultério (Nelson Rodrigues dizia que "não existe família sem adúltera"), a separação, o desquite, o divórcio.
Antes da lei do divórcio, em 1997, os desquitados podiam recorrer ao casamento no Uruguai, inclusive mediante procuração, pois lá o desquite brasileiro era aceito como divórcio. Isso atenuava o estigma dos unidos por consenso, os "amigados", o que na cultura popular atingia especialmente a mulher, isto é, a "amante", essa ameaça de destruição dos lares. As famílias repletas de zonas de sombra, de armários trancados: a tia que deu um mau passo, ficou mal falada e nunca mais namorou ninguém; o solteirão de hábitos estranhos que alega não ter se casado para cuidar da mãe; o filho que cada vez mais se parece com o tio, cunhado da mãe; o bebê que deveria sair louro e saiu da cor do único amigo negro da família.
O que mudou dos anos 40 para estes tempos pós-modernos de aparente dissolução dos costumes? Uma pesquisa recente apresenta uma curiosa revelação: a família brasileira é uma das instituições mais valorizadas. E não por ter ficado mais careta, mas, ao contrário, porque aumentou sua tolerância com temas como virgindade e homossexualismo. Com exceção do que se passa no Brasil profundo.
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