sexta-feira, julho 06, 2012
Operação conjunta - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 06/07
Ontem, quatro grandes bancos centrais derrubaram seus juros básicos. Foram eles o Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Inglaterra (BoE), o Banco do Povo da China (BPoC) e o Banco Nacional da Dinamarca. E não foi mera coincidência.
Dá para enxergar certa articulação, ainda que informal, entre bancos centrais, cujo objetivo talvez não seja facilitar a retomada da atividade econômica, mas apenas evitar seu agravamento.
O BCE derrubou os juros básicos para 0,75% ao ano - nível mais baixo nos pouco mais de 10 anos do euro. Foi o primeiro corte desde dezembro.
Após a decisão, o presidente do BCE, Mario Draghi, não fez questão de dourar a pílula. Disse não ver melhoras no comportamento da economia e que "as incertezas continuam elevadas".
A meta de inflação d o BCE é de 2,0% ao ano. Mas, nos 17 países da área, a média é de 2,4%. Como está acima da meta, do ponto de vista estritamente técnico talvez não houvesse razões para baixar os juros. E, como a cada redução feita pelo BCE, ontem não faltaram analistas que alertassem para o risco de disparada da inflação.
Não é o que vai se configurando. Draghi prevê, ao longo de 2013, uma inflação média no bloco menor que 2,0%. O BCE, assim, se antecipa à inflação abaixo da meta.
Mas há quem esteja especialmente impressionado com a estagnação econômica europeia e aposte em que a deflação (queda constante de preços) esteja mais próxima do que o aumento da inflação.
Pelo nível de distorções que gera numa economia, deflação pode ser mais grave do que inflação. Como os tributos, por exemplo, são quase sempre cobrados sobre preços, deflação implica perda de arrecadação do setor público. E arrecadação mais baixa com aumento de despesas (juros mais altos da dívida pública, investimentos para a retomada, seguro-desemprego, etc.) tende a elevar o rombo orçamentário.
Além disso, a deflação, geralmente, eleva, em termos reais, as dívidas do setor público e das famílias, novo problema em tempos de crise. Mas, por ora, Draghi afasta esse perigo. Diz não ver nas telas dos radares do BCE indícios de risco de deflação.
Para decepção geral dos que pedem mais dinheiro que sirva de combustível para o avanço econômico, Draghi avisou não querer novo LTRO (sigla em inglês de Operação de Refinanciamento de Longo Prazo), como nos empréstimos aos bancos do euro em dezembro e em fevereiro, pelo prazo de dez anos, a juros de só 1,0% ao ano.
E as bolhas? Dinheiro farto e barato não é um poderosos assoprador de bolhas? De fato, bastou em alguns meses de 2001 e 2002 o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) manter os juros ao redor de 1,0% ao ano para surgirem bolhas de crédito - em especial na área hipotecária -, estouradas em 2007.
Hoje, os juros do Fed, perto de zero, e do BCE, em 0,75% ao ano (veja o gráfico), seguem abaixo do que naqueles tempos, mas já não são capazes de gerar bolhas financeiras e imobiliárias. Os bancos, sobrecarregados com problemas patrimoniais e financeiros, já não se dispõem a se atirar, como há anos, às operações de crédito.
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