FOLHA DE SP - 29/07
RIO DE JANEIRO - Outro dia, em crônica anterior, comentei que, em criança, eu entendia tudo, inclusive -e principalmente- o mundo. Hoje, passados muitos dias e noites, não entendo mais nada, principalmente de mim mesmo. Dou exemplos.
Quando soube que houve um dilúvio universal, as cataratas do céu se abrindo e chovendo 40 dias e 40 noites, achei mais que natural: os pecados dos homens e das mulheres mereciam um castigo, Deus se arrependera de sua criação. Mesmo assim, encontrou um justo e, antecipando a indústria naval, deu a Noé as medidas para uma arca salvadora de não sei quantos côvados (Em tempo: para mim de nada serviria, não sei quanto é um côvado).
Mais tarde, descendo a detalhes e substituindo a água por fogo, o Senhor destruiu duas cidades com uma eficiência que os homens só aprenderiam séculos depois, em Hiroshima e Nagasaki. Repetindo sua misericórdia, salvou Ló, sua mulher e duas filhas. Mesmo assim, a mulher foi olhar para trás e transformou-se numa estátua de sal.
Em criança, eu entendia todos esses castigos. Não havia imprensa investigativa, promotores de Justiça, Polícia Federal, entre o delito e a pena não havia o Gilmar Mendes, tudo corria bem. Pessoalmente, entendia melhor o dilúvio que foi universal do que a destruição de Sodoma e Gomorra -que foi seletiva, inaugurando a homofobia e sem haver passeata gay em protesto. Mais uma vez, entendi tudo.
Hoje, homens e mulheres continuam fazendo das suas em diversos níveis e modos. E, quando chove, o castigo pega as cidades serranas do Rio e algumas ilhas japonesas, o fogo só destrói alguns cinemas e supermercados. Onde está o Senhor?
Bem, teremos em breve o julgamento do mensalão. Desde já, me dispenso de entender o que acontecerá.
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