FOLHA DE SP - 31/07
Amanhã entraremos em agosto, mês de Jogos Olímpicos, mas também de cachorro louco, segundo a crença popular. Do jeito que vai a crise global, os supersticiosos devem estar esperando novas turbulências, principalmente na Europa.
Por aqui, porém, temos pela frente uma comemoração. Em agosto, vai fazer um ano que o BC começou a derrubar a taxa básica de juros e que o governo voltou a pensar em estímulos à atividade econômica.
Estamos todos cansados dessa fase europeia da crise. Parece que ela já dura um século. Mas, é quase inacreditável, há menos de um ano havia uma baixíssima percepção a respeito da gravidade da crise.
Todos se lembram, os juros foram elevados no primeiro semestre de 2011, sob aplausos do mercado. Quando o presidente do BC, Alexandre Tombini, contrariou a todos e reduziu a Selic de 12,5% para 12%, em 31 de agosto, o mundo desabou sobre ele. Foi chamado de "dovish" pelo setor financeiro, neologismo inglês derivado de pombo e que indicaria tolerância com a inflação.
Hoje, não há quem mantenha a crítica de um ano atrás. A inflação caiu e a crise se agravou. Tombini estava certo. Ele e sua equipe enxergaram a gravidade do problema muito antes do mercado.
Desde 31 de agosto, o BC já reduziu os juros em 4,5 pontos percentuais. O próprio Tombini reconheceu, na semana passada, que os efeitos dessa redução e de outros incentivos ainda não foram sentidos plenamente na economia.
Para que isso ocorra, seria preciso mais tempo e um certo relaxamento da crise global. Há, porém, uma pergunta: será que a redução dos juros cobrados pelos bancos acompanhou a queda da taxa básica? A resposta não é tão simples, porque há uma enorme complexidade de taxas vigentes no mercado.
Quem quiser conferir deve olhar os dados que o BC divulga. A taxa média no país caiu de 39,7% ao ano em agosto de 2011 para 31,1% agora. Um passeio pelos números dos cinco principais bancos mostra reduções tímidas.
No cheque especial, a queda foi quase imperceptível nos bancos privados. Num deles, caiu de 8,9% ao mês para 8,6% no período de um ano. Em outro, de 8,7% para 8,6%. Num terceiro, até subiu um pouco, de 10,15% para 10,19%. Só para lembrar: 10,19% ao mês significam 220% ao ano. Nos bancos públicos, a baixa foi importante, com as taxas cortadas quase pela metade em relação aos 8,5% a 9% de 2011.
No crédito pessoal, as quedas também foram pequenas. De 5,08% ao mês em agosto para 4,55% hoje em um banco. De 4,36% para 3,56% em outro. E de 3,64% para 3,40% num terceiro. O cenário é semelhante no crédito para veículos, embora apresente taxas menores.
Para a pessoa jurídica, as taxas também permanecem elevadas se comparadas com a Selic. O desconto de uma duplicata, que custava 3,42% ao mês em um grande banco, custa 3,13%. Onde custava 3,12%, custa hoje 2,80%. O mesmo se dá no crédito ao capital de giro.
A despeito dessas quedas, portanto, continua sendo muito caro tomar crédito no Brasil, seja para a pessoa física seja para a jurídica. No dia 22 deste mês, em editorial, a Folha chamou de "agiotagem" a situação que perdura em parte da atividade de intermediação financeira no Brasil, escandalizada com a taxa anual cobrada pelos cartões de crédito, de 323% (55% no Peru).
Seria injusto, entretanto, negar os avanços desse período. O mercado aceitou a ideia de que o país caminha para ter taxas de juros civilizadas no médio prazo. E há também, mesmo com a continuidade do turbilhão na economia global, a percepção de que os estímulos concedidos desde agosto devem começar a ter efeito neste segundo semestre.
Tombini sustenta que o país vai voltar a crescer por conta de dois efeitos. Primeiro, pelas expansões na renda e no emprego, que continuam --no primeiro semestre foi aberto mais de 1 milhão de vagas formais. Segundo, pela combinação de resultados da queda dos juros e da inflação moderada.
Neste agosto, mês de cachorro louco, que ele, Tombini, esteja outra vez enxergando a economia melhor que o mercado pessimista. É o que o país espera, enquanto cola na TV para torcer pelos atletas brasileiros na Olimpíada de Londres.
Por aqui, porém, temos pela frente uma comemoração. Em agosto, vai fazer um ano que o BC começou a derrubar a taxa básica de juros e que o governo voltou a pensar em estímulos à atividade econômica.
Estamos todos cansados dessa fase europeia da crise. Parece que ela já dura um século. Mas, é quase inacreditável, há menos de um ano havia uma baixíssima percepção a respeito da gravidade da crise.
Todos se lembram, os juros foram elevados no primeiro semestre de 2011, sob aplausos do mercado. Quando o presidente do BC, Alexandre Tombini, contrariou a todos e reduziu a Selic de 12,5% para 12%, em 31 de agosto, o mundo desabou sobre ele. Foi chamado de "dovish" pelo setor financeiro, neologismo inglês derivado de pombo e que indicaria tolerância com a inflação.
Hoje, não há quem mantenha a crítica de um ano atrás. A inflação caiu e a crise se agravou. Tombini estava certo. Ele e sua equipe enxergaram a gravidade do problema muito antes do mercado.
Desde 31 de agosto, o BC já reduziu os juros em 4,5 pontos percentuais. O próprio Tombini reconheceu, na semana passada, que os efeitos dessa redução e de outros incentivos ainda não foram sentidos plenamente na economia.
Para que isso ocorra, seria preciso mais tempo e um certo relaxamento da crise global. Há, porém, uma pergunta: será que a redução dos juros cobrados pelos bancos acompanhou a queda da taxa básica? A resposta não é tão simples, porque há uma enorme complexidade de taxas vigentes no mercado.
Quem quiser conferir deve olhar os dados que o BC divulga. A taxa média no país caiu de 39,7% ao ano em agosto de 2011 para 31,1% agora. Um passeio pelos números dos cinco principais bancos mostra reduções tímidas.
No cheque especial, a queda foi quase imperceptível nos bancos privados. Num deles, caiu de 8,9% ao mês para 8,6% no período de um ano. Em outro, de 8,7% para 8,6%. Num terceiro, até subiu um pouco, de 10,15% para 10,19%. Só para lembrar: 10,19% ao mês significam 220% ao ano. Nos bancos públicos, a baixa foi importante, com as taxas cortadas quase pela metade em relação aos 8,5% a 9% de 2011.
No crédito pessoal, as quedas também foram pequenas. De 5,08% ao mês em agosto para 4,55% hoje em um banco. De 4,36% para 3,56% em outro. E de 3,64% para 3,40% num terceiro. O cenário é semelhante no crédito para veículos, embora apresente taxas menores.
Para a pessoa jurídica, as taxas também permanecem elevadas se comparadas com a Selic. O desconto de uma duplicata, que custava 3,42% ao mês em um grande banco, custa 3,13%. Onde custava 3,12%, custa hoje 2,80%. O mesmo se dá no crédito ao capital de giro.
A despeito dessas quedas, portanto, continua sendo muito caro tomar crédito no Brasil, seja para a pessoa física seja para a jurídica. No dia 22 deste mês, em editorial, a Folha chamou de "agiotagem" a situação que perdura em parte da atividade de intermediação financeira no Brasil, escandalizada com a taxa anual cobrada pelos cartões de crédito, de 323% (55% no Peru).
Seria injusto, entretanto, negar os avanços desse período. O mercado aceitou a ideia de que o país caminha para ter taxas de juros civilizadas no médio prazo. E há também, mesmo com a continuidade do turbilhão na economia global, a percepção de que os estímulos concedidos desde agosto devem começar a ter efeito neste segundo semestre.
Tombini sustenta que o país vai voltar a crescer por conta de dois efeitos. Primeiro, pelas expansões na renda e no emprego, que continuam --no primeiro semestre foi aberto mais de 1 milhão de vagas formais. Segundo, pela combinação de resultados da queda dos juros e da inflação moderada.
Neste agosto, mês de cachorro louco, que ele, Tombini, esteja outra vez enxergando a economia melhor que o mercado pessimista. É o que o país espera, enquanto cola na TV para torcer pelos atletas brasileiros na Olimpíada de Londres.
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