CORREIO BRAZILIENSE - 12/06
Os peemedebistas não serão os mais agressivos, nem com Marconi Perillo hoje, nem com Agnelo Queiroz amanhã. Deixarão que PT e PSDB se ataquem, de olho no futuro, seja de potencial aliado dos tucanos ou a manutenção de parceiro preferencial dos petistas
Quem vem acompanhando a CPI do Cachoeira — famosa pelas frases de efeito, brigas internas e poucos resultados efetivos, pelo menos, até o momento — vai perceber hoje e amanhã os campos delimitados de dois partidos que disputam a Presidência da República: PT e PSDB. Os petistas hoje estarão vestidos para a guerra, dispostos a comprovar que a venda da casa do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), é para lá de suspeita. No dia seguinte, será a vez de o PSDB pegar as mesmas tintas e, ao longo do depoimento do governador do DF, Agnelo Queiroz, tentar carimbar o PT como o partido da boquinha envolvido com o contraventor Carlos Cachoeira. Essa é a parte conhecida do enredo da semana. Ninguém sabe, entretanto, como se comportará o PMDB, protagonista ora lá, ora cá.
Para os noveleiros de plantão, o PMDB é quase um Cadinho, o personagem de Alexandre Borges na novela das nove. Dividido entre duas famílias, Cadinho ficou famoso. Com o PMDB de hoje não é diferente. O partido vive entre dois amores — o PSDB, mais antigo, e o PT. E volta e meia transita entre a casa tucana e a petista.
Na CPI, essa percepção está mais visível. Entre alguns integrantes do colegiado há quem veja um acordo velado entre tucanos e peemedebistas para dar uma força hoje a Marconi Perillo. Uma forma de agradecer o fato de o PSDB não ter apoiado o pedido para convocar o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral — que, é bom que se diga, não apareceu em conversas telefônicas do grupo de Carlos Cachoeira. O mesmo PMDB também pretende dar uma força a Agnelo Queiroz, do DF, onde os dois partidos são parceiros.
Os peemedebistas não têm hoje segurança total de que o casamento com o PT resistirá por muito tempo. E, por isso, não dispensam os tucanos. A ideia é deixar que PT e PSDB se ataquem para, no futuro, os peemedebistas serem chamados a ajudar um e outro e possam, com tranquilidade, escolherem o caminho em que se sentirem mais seguros.
Por falar em caminho…
Essa Comissão Parlamentar de Inquérito está a cada dia se distanciando do modelo das demais. Em primeiro lugar, começou com relatórios e inquéritos policiais prontos. Esta semana, as audiências dos governadores marcarão mais uma diferença, em especial, para com a CPI do Orçamento. Lá na década de 1990, a CPI apurou o envolvimento de deputados, senadores e governadores com desvio de dinheiro público, principalmente de emendas parlamentares. Foram mais de 10 congressistas citados como conhecedores do esquema e coube aos integrantes da CPI detectarem quem, de fato, havia desviado recursos das emendas e das chamadas “subvenções sociais” para entidades privadas. Com tanto trabalho para desvendar a atuação dos congressistas, aquela comissão terminou sem concluir grande parte das investigações sobre os governadores.
Agora, os governadores parecem ter assumido o primeiro lugar na fila de investigações, ao lado do senador Demostenes Torres (ex-DEM-GO). Diante desse cenário, a sensação que se tem é de que os deputados ligados ao contraventor Carlos Cachoeira foram esquecidos. E, se continuar assim, vão acabar como os governadores terminaram a CPI do Orçamento. Livres, leves e soltos.
Por falar em leve e solto…É incrível um traficante algemado fugir da Polícia Federal em Brasília sem ser incomodado. É tão inacreditável quanto Cadinho convencer os telespectadores de que ficará quieto numa casa só. Infelizmente, a fuga foi real. Nem um novelista pensaria em algo tão inusitado. O jeito é torcer para que a investigação do caso consiga desvendar o mistério.
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