FOLHA DE S.PAULO, 5/6
Inocêncio Mártires Coelho logo estará no caminho da Comissão da Memória e da Verdade instituída em PE
AO MENOS um dos que conduziram os processos de acusação durante a ditadura está sob o risco, afinal, de ter pesquisada e exposta a sua parte na contribuição sórdida, e muitas vezes criminosa, desses colaboracionistas do sistema de torturas, condenações, mortes e desaparecimentos. O portador do enganoso nome de Inocêncio Mártires Coelho é, por certo, dos que mais merecem, em vida ou em memória, ser reconhecido pelo que foi e fez.
Inocêncio Mártires Coelho logo estará no caminho da Comissão da Memória e da Verdade que o governador Eduardo Campos instituiu em Pernambuco. Em suas primeiras atribuições citadas, a comissão deverá investigar autoria e circunstâncias do ocorrido ao jovem padre Antonio Henrique Pereira Neto, em 1969.
Auxiliar de dom Hélder Câmara, à época arcebispo de Olinda e Recife, padre Henrique sabia que sua função o punha na mira do bando de oficiais do Exército e usineiros que agia no Estado. Não a deixou.
Padre Henrique foi emboscado. Seu corpo ficou com as marcas da tortura brutal. E dos tiros, até seu cadáver ser largado em um ermo da periferia de Recife. A barbaridade do crime ecoou no mundo todo.
Pressões internacionais para que fosse investigado perderam-se, todas, na indiferença do governo e dos militares. Mas havia indícios, havia pistas, havia nomes. E pessoas e instituições dispostas a buscar a identidade da autoria.
Como em outros inquéritos e processos, Inocêncio Mártires Coelho foi o representante de um Ministério Público travesti, par constante do AI-5. Criou todos os embaraços e deixou livres todas as ameaças ao próprio d. Hélder, a seu grupo de fiéis e a quem persistisse no caso do jovem padre.
Inocêncio Mártires Coelho engavetou tudo. É possível que a comissão recupere esse material. Se não, a par da investigação sobre padre Henrique, é muito provável que em jornais e de sobreviventes da época obtenha, se quiser, o suficiente sobre os ainda intocados colaboracionistas do regime nas condenações e na negação dos crimes da ditadura. E Inocêncio Mártires Coelho foi aí uma eminência.
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