CORREIO BRAZILIENSE - 31/05
Com dificuldades de conquistar o eleitorado, a oposição por estes dias se agarra mais ao encontro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes do que ao atraso na execução das obras públicas ou mesmo à CPI que investiga as relações do contraventor Carlos Cachoeira. Isso porque, na visão de muitos, Lula extrapolou ao pedir a reunião com um ministro do Supremo que irá julgar o caso do mensalão dentro em breve.
Não por acaso, senadores como Aécio Neves (PSDB-MG), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e até Cristovam Buarque (PDT-DF) se revezaram ontem em pronunciamentos cobrando explicações de Lula. Jarbas chegou a dizer que não cabe mais a Gilmar falar sobre o tema. Ou seja, o recado está claro: “Agora é conosco”, leia-se a oposição.
A guinada dos oposicionistas tem um objetivo claro: Gilmar Mendes, na avaliação deles, integrante da mais alta Corte do país, não iria mentir ao falar de uma conversa com um ex-presidente da República. E, se ficar o dito pelo não dito — é importante frisar que Lula nega que tenha sido esse o teor da conversa —, o eleitor vai acreditar em quem quiser.
Mas alguns fatores devem ser levados em conta na hora de escolher um lado dessa história. Primeiro, são frequentes declarações de Lula sobre a necessidade de o PT vender a sua versão a respeito do que ficou conhecido como “mensalão”. Mostrar que isso não ocorreu, que houve apenas um caixa dois. Portanto, é plausível que uma conversa com Gilmar tenha ocorrido nos termos em que foi colocada pelo ministro do STF. Pelo menos, é por aí que a oposição guia suas declarações sobre o caso.
Por falar em guia...
A estratégia pode funcionar no sentido de desgastar a imagem do ex-presidente, mas, em termos eleitorais, os reflexos serão praticamente nulos. Isso porque nada disso envolve a presidente Dilma Rousseff, que não sofreu sequer um arranhão na CPI, muito menos em relação a Lula e o episódio do mensalão. Aliás, vale lembrar que ela virou candidata à Presidência da República justamente por não estar vinculada ao escândalo.
No caso da CPI, o máximo que se chegou até agora foi à convocação do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, e de Goiás, Marconi Perillo. Ou seja, PT e PSDB têm aí a sua quota de desgaste. E nada disso afeta Dilma.
Vale aqui um parêntese a respeito do governador do Rio, Sérgio Cabral, um peemedebista que trafega entre tucanos e petistas e ficou fora das investigações. Além de fazer a valer a mensagem que Cândido Vaccarezza enviou ao governador por celular dizendo que ficasse tranquilo, é sempre bom lembrar que não há nada ainda sobre as obras da Delta no Rio de Janeiro. O que está pendente em relação a Cabral é ele demonstrar o pagamento de suas viagens ao exterior para que não restem dúvidas, mas até a CPI chegar a esse ponto — e se chegar — muita água vai rolar sob a ponte. E nem cheiro de Dilma nessa história.
Quanto ao caso de Gilmar-Lula, Dilma não tem sequer um fio de cabelo. Portanto, mantidas as condições de temperatura e pressão sobre Lula, é bom Dilma se preparar para uma campanha pela reeleição. Afinal, entre os petistas já existe quem diga nos bastidores que Lula errou ao procurar Gilmar Mendes para conversar sobre qualquer assunto. E se foi sobre o mensalão, pior ainda. Vale lembrar que não é papel de um ex-presidente da República advogar em favor daqueles que afastou do seu governo à época por conta do escândalo.
Por falar em lembrar...
Em duas semanas, o ex-deputado Carlos Murilo Felício dos Santos (PSD-MG) lança o livro Momentos decisivos — contra o golpismo no Brasil. Carlos Murilo, primo de Juscelino Kubitschek que hospedava o ex-presidente em suas visitas secretas a Brasília no período da ditadura militar, conta passagens inéditas dos bastidores da história política do Brasil. A festa de lançamento será no Memorial JK, em 13 de junho, a partir das 19h30. Para quem gosta dos bastidores da política, especialmente, da história de Brasília, a obra, com prefácio do jornalista Mauro Santayana, é leitura obrigatória.
Mantidas as condições de temperatura e pressão sobre Lula, é bom Dilma se preparar para uma campanha pela reeleição
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