segunda-feira, maio 14, 2012

De que ri a senhora Cachoeira? - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


Andressa Mendonça não vai posar para a Playboy. Pelo menos por enquanto. Ela recusou o convite da revista. "Meu papel, neste momento, não é esse", disse a mulher de Carlinhos Cachoeira em entrevista ao jornal O Globo. Qual seria o papel de Andressa neste momento? Aparentemente, algo um pouco mais obsceno que vender sua nudez graças à prisão do marido: rir. Quando ela disse que "o Cachoeira é uma pessoa encantadora", a repórter perguntou: "Por isso encantou tanta gente?". Andressa concluiu seu striptease mo­ral com uma risada: "Acredito que sim".

A musa dos caça-níqueis também riu ao dizer que não daria "esse gostinho" (expor sua nudez) e que deixaria "só para o Cachoeira", com quem está há nove meses. A graça que Andressa vê nas coisas a sua volta traz a dimensão pornográfica que faltava ao caso do bicheiro. Não pode haver nada mais obsceno que as risadas da senhora Ca­choeira no centro de um dos maiores escândalos políticos brasileiros. Nin­guém precisa tirar a roupa.

Fora um eventual deficit cognitivo da moça, o que será que lhe inspira tama­nha tranquilidade e senso de humor? Não se sabe. O que se sabe é que ela diz estar confiante no doutor Márcio Tho­maz Bastos, advogado de Cachoeira e também, coincidentemente, de Lula. Depois dos indícios de que, além de privatizar o senador Demóstenes Torres, o bicheiro é dono de coisa maior - incluindo um bom pedaço do PAC -, os altos círculos da República parecem conspirar pela paz interior de Andressa.

Romântica, a emergente dama do Cerrado lamenta não ter podido ver o parceiro no dia de seu aniversário. Mas con­ta que deixou na penitenciária um cartão em que escreveu "coisas lindas de uma mulher apaixonada': O enredo policial não a constrange, e isso lhe dá confiança para dizer ao ser amado que tudo é "apenas uma turbulência da vida". "Quem não passa por isso?", diz a loura de 28 anos, convencida da normalidade da situação. E emenda o argumento definitivo:
"Quem está livre de ser preso?".

Ninguém. Qualquer pessoa de bem, que pague em dia seus deputados e senadores, pode ter o azar de acordar um dia vendo o sol nascer quadrado. São as fatalidades da vida. Nessas horas, não adianta desespero. Melhor pensar em coisas boas, como o Supremo Tribunal Federal (STF). Certamente é um alento para a jovem Andressa Cachoeira lembrar o bando do mensalão, que também pagava regiamente seus parlamentares - e encontrou no STF um calmante para suas angústias. Quando o ministro revisor avisa, sete anos depois, que não sabe se vai dar tempo de julgar os mensaleiros - e de evitar a extinção de seus crimes -, o que mais pode fazer a mulher do bicheiro preso, além de rir?

O Supremo é uma inspiração para todas essas pessoas que não estão livres de ser presas. Ponha-se no lugar de alguém cujas negociatas, por acidente, foram grampeadas e que foi em cana. Imagine o alívio de olhar para a mais alta corte e ver juízes batendo boca como adolescentes, a ponto de um dizer para o outro que ele é "brega" por­que "nunca curtiu (a banda) The Ink Spots". Ou assistir aos mais altos magistrados dando gritos populistas, tipo "Viva o país afrodescendente!", para agitar a bandeira racial dos padrinhos. Um bem-sucedido empresário da contravenção não pode levar isso a sério.

Por essas e outras, assim como sua amada, Carlinhos Cachoeira também dá risadas. "Eu contei do convite (da Playboy), e ele gostou, morreu de rir." Portanto, quem achou que o bicheiro estava chateado com a fatalidade de sua prisão agora fica sabendo que ele anda até gargalhan­do. Cachoeira confia nas instituições. Especialmente na­quelas que o consideram uma pessoa encantadora, como explicou Andressa.

A missão da CPI é decidir quem vai rir por último. Ca­choeira é homem bomba. Se parar de rir, explode. "Tenho certeza de que ele não quer prejudicar ninguém", disse a primeira-dama, num simpático recado à clientela: salve sua pele salvando Carlinhos - tratar com o advogado de Lula.

Andressa Cachoeira planeja o casamento para breve, quando seu príncipe sair do xadrez. Cada povo tem o con­to de fadas que merece. Ou os brasileiros saem às ruas para incendiar a CPI e explodir o homem bomba ou serão todos súditos da rainha risonha do bicho.

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