sexta-feira, abril 13, 2012

Que conselho é esse?! - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 13/04/2012


Senador que não se julga apto a relatar um processo contra seu colega não deveria fazer parte do Conselho de Ética. Muito menos da CPMI que investigará as relações do bicheiro Carlos Cachoeira. Simples assim



O sorteio para escolha do senador que relatará o caso Demóstenes Torres no Conselho de Ética do Senado nos leva a pensar que algo vai muito mal naquela Casa. Não é possível que cinco senadores, sorteados, se recusem à tarefa de apontar se o colega feriu o decoro parlamentar. Afinal, a única tarefa do Conselho de Ética é averiguar o comportamento das excelências. Portanto, quem não se julga apto a essa missão, não deveria fazer parte do colegiado. Simples assim.

Por que, então, Lobão Filho (PMDB-MA), Gim Argello (P)MDB-DF), Ciro Nogueira (PP-PI), Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR) — a relação feita aqui apenas segue a ordem de sorteio — estão no Conselho de Ética? Alguns congressistas apostam que a presença deles ali é apenas para evitar que prosperem os pedidos de cassação. Talvez essa visão seja exagerada. Mas a conclusão, depois do fiasco de ontem, é cristalina: se não aceitam o papel de relatores, que procurem prestar serviço em outras praias.

Por falar em outras praias...
Na semana que vem, o Congresso vai se distrair escolhendo os senadores e deputados para compor a CPI encarregada de investigar as relações do bicheiro Carlos Cachoeira com o poder público e privado. Se a lógica valesse para a política, em princípio esses senhores, que têm tantos problemas de foro íntimo para averiguar se Demóstenes tem alguma culpa no cartório, não devem se sentir aptos a integrar a CPI. Apesar disso, leitor, eu aposto com você que alguns desses cinco farão força para integrar a CPI do Cachoeira. Aguardemos.

Por falar em apostas...
A parte da base que não se mostra interessada em relatar o caso Demóstenes no Senado (PMDB, PP e PTB) dá demonstrações de que não faltará à presidente Dilma Rousseff quando o assunto for economia. E é isso que realmente preocupa o Planalto. Não por acaso, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou a alíquota unificada de 4% do ICMS para operações interestaduais envolvendo importados. Os senadores capixabas ficaram contra, os catarinenses também, mas a maioria governista falou mais alto nesse quesito.

A tendência, conforme muitos têm comentado em conversas reservadas, é a de que os congressistas, especialmente, na Câmara, joguem a bola nas contas de Dilma apenas quando for para colocar o governo na fogueira da ética. Não por acaso, os aliados fizeram coro em favor da convocação da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Para você que não se lembra do caso, ela terá de comparecer ao Congresso para explicar a compra de lanchas da empresa Intech Boarding nos tempos em que era ministra da Pesca. A empresa teria doado recursos à campanha do PT em 2010, quando a candidata a governadora de Santa Catarina era a própria Ideli.

Por falar em PT...
O governo não gostou de ver Ideli chamada à Câmara para falar sobre essa compra das lanchas. Mas depois de pesquisar daqui e dali, os governistas concluíram que foi uma operação casada que envolveu a oposição, o PMDB e o próprio PT. Parte dos petistas na Câmara não se sente muito à vontade com Ideli, uma vez que o cargo hoje ocupado por ela escorreu pelos dedos de deputados do partido — Luiz Sérgio (PT-RJ), vale lembrar, também foi ministro da Pesca e deu declarações a respeito das lanchas que ajudaram a colocar lenha na fogueira para a convocação de Ideli.

Mas, entre os ministros de Dilma, a avaliação é a de que não adianta a bancada petista tentar balançar Ideli para ver se a presidente lhes dá o cargo. O Planalto considera que o papel do PT será montar uma corrente de solidariedade e proteção em torno de Ideli Salvatti. Mostrar que ela está fortalecida e não tem nada a ver com o episódio das lanchas, uma vez que a licitação foi anterior ao seu período de ministra.

Ao Planalto, interessa saber se os congressistas serão agora capazes de praticar o desapego: no caso dos petistas na Câmara, esquecer as desavenças internas, as frustrações e proteger Ideli. E, aos senadores de tantos partidos no Senado, deixar o Conselho de Ética da Casa a cargo de quem não tiver problemas de foro íntimo para relatar episódios como o de Demóstenes Torres. Nos dois casos, leitor, a tarefa não é nada fácil para os personagens em questão. Vamos aguardar.

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