O GLOBO - 13/04/12
Entrevistei ontem na GloboNews o vice-presidente de Gestão Financeira e Relações com Investidores do Banco do Brasil, Ivan de Souza Monteiro, e o vice-presidente de Finanças e Mercado de Capitais da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival Alves Pinto. Os dois garantem que não temem a formação de bolhas nem o risco de perda de rentabilidade das instituições. Informam que além da renegociação de dívidas por juros mais baixos e prazos maiores estão oferecendo aos clientes educação financeira para orientar os investimentos.
Essas medidas têm a vantagem de disparar uma competição maior entre os bancos, através de taxas de juros menores - ontem mesmo o HSBC também anunciou cortes. Por outro lado, há o risco de que as empresas públicas sejam usadas para atender às políticas de governo e venham a ter prejuízo, que acabará sendo coberto pelo contribuinte, como já aconteceu no passado.
Os dois vice-presidentes dos maiores bancos públicos do país garantem que não estão correndo risco, que tudo foi analisado há muito tempo e que o processo de redução de taxas tem sido contínuo desde 2008.
- A conjuntura internacional é de juros negativos, e aqui dentro o regulador tem reduzido também as taxas básicas de juros para níveis historicamente baixos. O desafio hoje é como manter o crescimento, manter os empregos, e o crédito ajudará nisso - diz Ivan Monteiro.
- Nessa situação nova, em que temos uma crise lá fora e uma situação de tranquilidade aqui dentro, não se pode manter taxas de juros que são incompatíveis com todos os outros determinantes, como a Selic, os juros futuros, a perspectiva do país, a composição da dívida pública - afirma Márcio Percival.
O vice-presidente da Caixa contou que com a oferta mais abundante e a custos menores aos clientes a CEF conseguiu sair de 6% do mercado, em 2008, para 12%, agora, e deve terminar o ano em 14%. Ivan Monteiro, do BB, diz que o banco tem 20% do mercado e sempre foi líder entre funcionários públicos:
- A livre opção bancária para funcionários públicos criou um desafio. O movimento que estamos fazendo agora é também para defender nossa base de clientes.
O grande truque nessas reduções de taxas do BB será a convocação de clientes para sair das modalidades mais caras de crédito, trocando-as por opções mais baratas. Quem estiver há dois meses usando mais do que 50% do seu limite de cheque especial, ou estiver há dois meses não pagando integralmente o cartão de crédito, será chamado para receber empréstimo. Transforma a dívida mais cara em crédito mais barato, de 3%, e refinancia em 24 meses.
Na Caixa, os juros do cheque especial já caíram de 7% para 3,5% e podem chegar a 1,35% dependendo da intensidade do relacionamento com o banco.
- Em vez de foco na rentabilidade do produto, estaremos de olho na rentabilidade do cliente para o banco - disse Márcio.
A Caixa não mexeu no produto em que é líder, o crédito imobiliário. Segundo Márcio Percival, é porque os juros desse produto são administrados e já bem baixos. No final do mês, a instituição fará um grande leilão de imóveis que além de taxas diferenciadas terá até uma novidade: serão imóveis mobiliados.
Os dois dirigentes recusam a ideia de que isso é incentivo ao endividamento excessivo que pode levar à formação de bolhas como as que arruinaram outras economias.
- O endividamento das famílias está em apenas 22% da renda. Isso é um nível baixo. A gente pode pensar em bolhas quando os ativos estiverem se valorizando muito acima da renda - afirma Márcio.
Lembrei que isso ocorre nos imóveis. Ele admitiu que certos segmentos desse setor precisam mesmo ser olhados com bastante atenção.
Os dois bancos aumentaram a base de clientes e participação no mercado desde a crise. Mas estiveram envolvidas em episódios problemáticos. O BB comprou o Banco Votorantim, que estava com dificuldade de se financiar no auge da crise, e no final de 2011 exibiu dados de alta inadimplência na carteira de automóveis. A Caixa se envolveu em um caso mais complicado: comprou uma participação no Banco PanAmericano, que depois revelou ter um enorme rombo.
- Aquilo foi caso atípico, foi fraude. Deu um choque grande no sistema e afetou a imagem da instituição, mas não teve repercussão financeira negativa - diz Percival.
A verdade é que a Caixa pagou R$ 740 milhões por um banco quebrado e depois teve que fazer aportes bilionários na instituição. Caixa e BB negam, claro, que tenham reduzido juros a mando da presidente Dilma. Alegam que vinham derrubando as taxas e captando mais clientela desde a crise, quando os bancos privados se retraíram. Apesar de falarem a mesma língua, no intervalo da gravação, seus assessores correram para cochichar instruções a cada um dos entrevistados. Ao fim do programa, eles foram cercados por funcionários do estúdio querendo detalhes das novas taxas. Sinal do apelo que tem essa proposta de queda do preço do dinheiro.
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