FOLHA DE SP - 08/03/12
RIO DE JANEIRO - Na semana passada, dois americanos afirmaram, em visita ao Brasil, que o país foi colocado em patamar superior nos cálculos externos dos EUA.
O subsecretário de Estado, William Burns, e o presidente do Council on Foreign Relations, Richard Haass, citaram a posição de sexta economia mundial, o pré-sal e o recorde de turistas brasileiros nos EUA.
Falaram da importância de um hemisfério estável, em que o Brasil tem papel-chave, para que Washington desenvolva o projeto de investir mais recursos militares e diplomáticos na Ásia, onde a China se ergue.
Sem entrar no mérito de como os governos Obama e Dilma pretendem traduzir a nova escala de valor em termos práticos, o fato é que nos EUA, por enquanto, ela está limitada às teorizações do que os conservadores chamam de "elite liberal".
É possível que os comerciantes da Flórida ou de Nova York valorizem o poder de compra dos viajantes do Brasil, mas o país não está no pensamento ou no vocabulário de pessoas como Rick Santorum e Newt Gingrich, que disputam a candidatura republicana à Presidência.
Ambos fizeram carreira num Congresso que andou várias casas para a direita desde o início dos anos 1990, impulsionado por lobbies religiosos, das indústrias bélica e financeira e de países como Israel e Arábia Saudita -e sob a torcida histérica da Fox News, de Rupert Murdoch.
Na campanha eleitoral, foi Gingrich quem usou a vitória da Embraer em licitação da Força Aérea para atacar Barack Obama -e o valor em jogo, US$ 355 milhões, é insignificante diante das vendas de armas em 2010 da americana Lockheed Martin (US$ 35,7 bilhões), à qual a empresa perdedora havia se associado.
O desafio de lidar com os EUA não está na Casa Branca atual, mas num sistema de poder em que políticos caricaturais passaram a exercer influência excessiva.
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