quinta-feira, março 08, 2012

A aposta de Dilma - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 08/03/12


A presidente está tão empenhada em fazer do agronegócio a alavanca da economia que vai criar um núcleo específico no Palácio do Planalto apenas para cuidar desse setor



Enquanto os partidos aliados bagunçam a vida do governo no Poder Legislativo, a presidente Dilma Rousseff concentra seus esforços na única coisa que não pode deixar desandar neste momento em que o ex-presidente Lula se recupera da pneumonia: a economia e a alavancagem do crescimento. E o principal caminho é o agronegócio, a área que segurou o Brasil em 2011 e foi responsável pelo índice positivo do Produto Interno Bruto.

Por ordem da presidente, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, reuniu ontem em seu gabinete representantes de sete ministérios com a presidente da Confederação Nacional de Agricultura, senadora Kátia Abreu (PSD-TO). O encontro foi resultado de uma conversa entre Dilma e a senadora em novembro do ano passado no aniversário da CNA. Ali, Dilma pediu que a entidade preparasse um conjunto de ações capazes de solucionar os gargalos do setor.

A apresentação da senadora foi rica em detalhes. Por uma hora e meia, Kátia Abreu expôs a situação atual dividia em quatro eixos: infraestrutura, marco regulatório, política agrícola e insegurança jurídica no campo. O quesito infraestrutura foi o mais demorado da exposição. Com o mapa do Brasil em mãos, a senadora mostrou que a maior parte da produção de soja e milho que segue para exportação sai do centro do Brasil. Em especial, os portos, sucateados.

Por falar em portos...
Kátia contou aos ministros que o certo seria escoar essa produção por Belém e Itaqui, no Maranhão. E não por Paranaguá e Santos, como é feito hoje. De Belém a Roterdã, na Holanda, são 11 dias. De Paranaguá, leva-se 18 dias, aumentando os custos de exportação. Ou seja, é hora de o governo pensar em mudar o eixo das exportações desses grãos para o Norte e o Nordeste do país.

Na frente de diretores da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Kátia Abreu reclamou também das hidrovias. Disse que o país tem se preocupado muito com hidrelétricas, mas não providencia as eclusas para que se mantenham navegáveis, capazes de escoar a produção pelos rios Madeira e Tocantins.

No quesito marco regulatório, ela disse que a navegação de cabotagem no Brasil é hoje uma das mais caras do mundo. Na política agrícola, lembrou que atualmente, o seguro agrícola cobre apenas 8% do setor enquanto nos Estados Unidos alcança 89%. Também foi mencionada aos ministros a insegurança jurídica quanto a terras limítrofes a áreas indígenas e ainda uma fiscalização específica para o campo no que se refere ao trabalho escravo.

Por falar em ministros...
A presidente Dilma Rousseff está tão empenhada em fazer do agronegócio a alavanca da economia que vai criar um núcleo específico no Palácio do Planalto apenas para cuidar desse setor. E isso não é à toa. Afinal, é o mais fácil de destravar. Se com os entraves de hoje o agronegócio cresceu mais de 3% em 2011, segurando a economia brasileira, será ajudando esse setor que o país crescerá mais. E, para completar, de boba Dilma não tem nada. Ela sabe que a política é como o amor: quando a dificuldade financeira entra pela porta, a felicidade sai pela janela. E, em termos políticos, quando as dificuldades econômicas se acumulam no país são os votos que voam pelos janelões do Palácio da Alvorada.

Por falar em votos...
Há alguns dias, peemedebistas me avisavam que não tinham nada contra Bernardo Figueiredo, indicado para a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT). Mas era esse técnico que pagaria o pato do curto-circuito entre o governo e os aliados, em especial, o PMDB. E assim se deu. Não foi a primeira vez que uma indicação do governo terminou rejeitada no Senado. Pelo visto, são esses cargos que servem para dar recados políticos sem grandes consequências para a economia. Dos males, o menor.

Feliz Dia Internacional da Mulher!

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