sexta-feira, março 16, 2012
Combate organizado - LUIZ GARCIA
O GLOBO - 16/03/12
É preciso ter fé no empenho de policiais e juízes em enfrentarem o crime organizado. Mesmo quando suas ações parecem esforços para esvaziar o oceano com canecas - o que, desta vez, pode ser não ser uma imagem adequada.
Há quase 20 anos, a juíza Denise Frossard - que, com isso, teve direito aos habituais quinze minutos de fama nacional - determinou a prisão de 14 chefões do jogo do bicho. Foi a primeira vez em que um braço do Estado reconheceu que o bicho era, na verdade, uma fera que agia na sombra de um aparentemente inócuo passatempo popular. Foi uma iniciativa tão corajosa quanto inédita. Não teve, digamos assim, generosamente sem entrar em detalhes, efeito duradouro.
Em 2007, veio a Operação Hurricane (quem inventa esses nomes bem que poderia limitar-se ao nosso rico idioma), que remeteu ao xadrez três chefões do jogo do bicho e causou a prisão até de dois desembargadores e um juiz. Mas logo o furacão virou brisa inócua: a máquina criminosa não parou de funcionar, bem azeitada, como sempre, pela considerável fortuna dos bicheiros.
Passaram-se cinco anos e temos agora uma outra juíza em ação: Ana Paula Vieira de Carvalho, corajosa e esperançosa como Denise. Ela condenou os principais dirigentes do crime organizado - tão organizado que tem até nome: Clube Barão de Drummond, em homenagem ao inocente inventor do jogo do bicho - a penas de quase 40 anos por cabeça, além de multas somando mais de R$ 30 milhões.
Pode-se dizer que não faltam ao bando recursos para pagar as multas: dinheiro, com certeza, ele tem de sobra. Nem para as multas, nem para recorrer da sentença. Mas há esperanças de que desta vez não seja fácil derrubar uma condenação que é sustentada por mais de um ano de telefones grampeados pela Polícia Federal. Registre-se lamentavelmente que, além de bicheiros, as gravações grampearam as reputações de membros do Judiciário e advogados, acusados de participação no feio crime de venda de sentenças favoráveis aos chefões do bicho.
Seja como for e como vier a ser, deve-se reconhecer e aplaudir: nunca houve um combate tão bem organizado ao crime que ainda pode ser chamado de organizadíssimo.
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