quinta-feira, março 01, 2012

Cidade domada - CLAUDIA ANTUNES


FOLHA DE SP - 01/03/12

RIO DE JANEIRO - Na madrugada da segunda-feira de Carnaval, enquanto a Beija-Flor desfilava no Sambódromo, a polícia do Rio fez uma operação no vizinho morro de São Carlos para prender um traficante.

O criminoso foi capturado num tiroteio em que um adolescente de 14 anos foi morto. O São Carlos sedia uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) que enfrenta problemas de adaptação, com reação do tráfico e casos de corrupção de policiais.

Seria saudável que a opinião pública carioca questionasse se valeu a pena arriscar a morte de um garoto pela prisão de um bandido que já deve ter sido substituído na favela. Ainda mais quando se sabe que um dos principais desafios das UPPs é conquistar os jovens, que passam a ter seu cotidiano regulado pela polícia.

Ocorre que no Rio vozes questionadoras têm encontrado pouco eco. A cidade vive uma boa fase, mas o oba-oba dos preparativos para a Copa e a Olimpíada domou seu espírito crítico. A Secretaria de Segurança paira acima de ataques, e restrições às obras urbanísticas raramente são levadas em conta.

O Estado, por exemplo, acaba de inaugurar uma ponte para a cidade universitária que desemboca numa via expressa já saturada, a Linha Vermelha. Por que não concentra os gastos viários numa nova linha de metrô, em vez de fazer só a extensão para a Barra de uma rota, a zona sul-centro, também congestionada?

Agora, há mobilização de urbanistas contra a demolição da primeira hípica da cidade, do século 19, e de um antigo quartel, ambos próximos ao Maracanã. O projeto divulgado para o local é de um parque, mas teme-se que venha a incluir um estacionamento para os Jogos. O Patrimônio municipal diz que ainda analisa o valor histórico-cultural dos edifícios.

O Rio não precisa de novas vagas para carros, mas que existam condições para que eles não precisem ser retirados das garagens.

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