VALOR ECONÔMICO - 30/03/12
Diante das defasagens da política monetária, já seria hora de o BC se preocupar não só com a inflação deste ano, mas também com a de 2013. Portanto, soa esquisito a autoridade monetária estar afrouxando seus instrumentos quando os preços tendem a escapar do seu controle no horizonte relevante.
A contradição é aparente, explicam fontes oficiais. O fato é que ao colocar no modelo algumas previsões que não são suas - por exemplo, as apuradas junto ao mercado, que estima um IPCA de 5,3% este ano e de 5,5% para o ano que vem - o cenário de referência do BC fica "inflado" e apresenta uma projeção de inflação mais salgada do que o Comitê de Política Monetária considera como mais provável para a tomada de decisão.
No RI, cenário de referência do BC "está inflado"
Há, também, elementos novos que devem estar na mira dos encarregados do controle da inflação. Por exemplo, o efeito de Basileia 3 sobre a oferta de crédito a partir de 2013. São regras restritivas para o sistema bancário e embora sejam de operacionalização gradual, algumas instituições podem decidir aplica-las de forma mais rápida, reduzindo a disponibilidade de crédito para a economia e, portanto, a força da demanda.
E há outros que podem dar um alívio em relação a este ano. Este é o caso do aumento do salário mínimo, reajustado em 14% em janeiro e que dá fôlego para a inflação de serviços. Se o IPCA ficar em 4,5% este ano, o reajuste do salário mínimo em 2013 será de 7,2%. Ou seja, praticamente metade do que foi neste exercício, o que, na pior das hipóteses, evitará que os preços dos serviços aumentem mais.
Em setembro de 2011, técnicos do Banco Central trabalhavam com uma desaceleração do crescimento da China para a faixa dos 7%. Hoje, não acham impossível que a expansão da segunda maior economia do mundo este ano fique mais próxima da casa dos 6%. Os preços das commodities, para efeito de cálculo das projeções inflacionárias, está praticamente estável. Mas nada garante que não haverá uma queda, o que seria bom para a inflação mas ruim para as contas externas do país.
A expansão do crédito interno este ano pode não alcançar os 15% estimados pelo BC. Há quem considere esse um crescimento superestimado.
A inércia, que funciona como fator de resistência para a queda dos preços, tende a dar uma inestimável contribuição este ano para os reajustes de preços administrados e monitorados por contratos. O IGP-DI, índice muito usado como indexador de contratos, que era de 11% em fevereiro de 2011, caiu para 3.38% em 12 meses até fevereiro.
"Em março de 2011, o mercado só falava na questão fiscal. Hoje ninguém fala mais. Se a meta de superávit primário está garantida para 2012 e 2013, por favor, coloquem na conta", recomenda um economista do governo aos analistas privados. "Também em março de 2011 todos falavam que o crescimento da economia no ano seria de 4% a 4,5%. Deu 2,7%", completou.
A inflação está caindo, mas "precisamos ter cautela para ver até onde ela vai, pois o mercado está dizendo que ela cai para 5,5% em 12 meses até abril e estaciona aí. Isso também entra como fermento nas projeções do BC", comentou uma outra fonte.
Estimativas do Top 5 - as cinco instituições que mais acertam os prognósticos de inflação nas pesquisas do BC - feitas no início do mês indicam variação de 1,18% para o IPCA do segundo trimestre e de 0,90% para o terceiro, bem abaixo do ano passado, quando a inflação foi de 1,40% no segundo e de 1,06% no terceiro trimestre.
"Em dezembro do ano passado não havia um cristão que acreditasse em inflação de 0,45% em fevereiro deste ano", conta um técnico oficial que toma o pulso do mercado.
O relatório de inflação reitera a previsão de 3,5% para o PIB deste ano. " Mas o mundo continua complicado", ponderou o economista. As ações do Banco Central Europeu para dar liquidez aos bancos "eliminaram o sentimento de pânico, mas as questões fundamentais estão aí para serem resolvidas. Ganhou-se tempo", disse. Nesse sentido, a situação de Portugal é emblemática. Se o país tiver que pagar juros de 10% ao ano, como ocorre com a Itália, ficará insolvente, avaliam fontes do governo. Os Estados Unidos ainda estão distante de um crescimento consistente. As restrições sobre o desempenho das economias maduras, portanto, podem se prolongar "por um período de tempo maior do que o antecipado", diz o relatório.
Por esse conjunto de elementos, asseguram fontes qualificadas do governo, a probabilidade, para o Copom, é de que a inflação em 2013 seja menor e não maior do que os 5,2% indicados no relatório de inflação.
O IPCA neste início de ano está abaixo do que esperavam o mercado e o BC. Ela pode ser maior do que a do ano passado nos meses de junho e julho - quando bateram no fundo do poço, mas volta a cair em seguida. O Banco Central, porém, ainda não consegui vencer uma batalha importante no processo de convergência da inflação para o centro da meta: a das expectativas.
Se tudo der errado e a inflação escapar, volta-se ao parágrafo 27 da ata do Copom de dezembro de 2010, que é a síntese do pensamento do Copom: "O Comitê ressalta que há certa equivalência entre ações macroprudenciais e ações convencionais de política monetária e que a importância desse vínculo tende a crescer com o aprofundamento do mercado de crédito... Entretanto, não há respaldo para que esses dois conjuntos de instrumentos sejam vistos como substitutos perfeitos".
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