FOLHA DE SP - 27/02/12
O profissional moderno trabalha hoje pela carreira, pelo "mercado", mas aparenta esquecer que os maiores interessados em seu sucesso não são seu empregador nem esse mercado, e sim sua família.
As pessoas que mais querem o bem do trabalhador abrem mão de sua companhia, de seu papel de pai ou de mãe, de marido ou de mulher, em troca de uma suposta construção de vida melhor.
A ascensão na carreira envolve regras tão complexas que exigem do trabalhador uma série de preocupações que vão muito além do conhecimento técnico de sua área profissional.
Entre elas estão o "networking", a ética, a política, a diplomacia, a moda, a educação continuada, as celebrações de fim de ano, a concorrência, a fofoca, o domínio de idiomas, a organização pessoal, enfim, uma série de elementos que, combinados, determinam a imagem do profissional e definem sua capacidade de evoluir ou sua estagnação.
Manter-se antenado com essas variáveis exige um envolvimento profundo, que aumenta à medida que vamos dominando o conhecimento sobre nossa atividade profissional.
Quanto mais nos envolvemos, mais assumimos as rédeas da carreira, porém mais nos distanciamos da vida. Profissionais antenados e em franco processo de crescimento costumam ter pouco tempo para si e para a família.
De tão valorizado pela sociedade, o trabalho passou a ser desculpa razoável para a falta de tempo, de carinho, de relacionamento, de sexo e de realizações pessoais.
Porém, não se pode esquecer de que a vida não é o mesmo que a carreira. Não vivemos para trabalhar, mas trabalhamos para viver.
O dito popular e o bom-senso rezam isso, mas a prática vai por outro caminho.
Nossa família ocupa, ou deveria ocupar, um espaço muito mais importante em nossa vida do que o trabalho.
Quem tem planos para desfrutar de vários anos de aposentadoria deveria perceber que, na verdade, quer desfrutar é daquilo que lhe é familiar.
Não importa se a família envolve laços sanguíneos ou não.
Pode ser que seus planos de aposentadoria envolvam uma aproximação maior de sua comunidade ou sua tribo, de seu Estado ou país de origem, do clube em que desfruta do lazer ou de qualquer referência que envolva elementos familiares e queridos a vocês.
Mas, independentemente de qual seja o sentido de família para você, o fato é que, se for casado, seu parceiro estará totalmente envolvido nessa reaproximação.
Por isso, veja a carreira não como o plano principal de sua vida, mas apenas como uma fase intermediária, onde aproveitará a oportunidade de vender seu tempo e conhecimento para garantir o desfrute da próxima fase da vida com mais tranquilidade e segurança.
Por essa interpretação, defendo que o foco quase que total no trabalho, se fizer parte dos planos da vida de um dos membros do casal ou de ambos, deveria durar o menor tempo possível, apenas o suficiente para sustentar seu crescimento.
Não se trata aqui de uma defesa do ócio, da vida sem trabalho. O ócio é bom, mas não é viável para quem não tem um bom grau de independência financeira.
Mas, por mais que o trabalho nos consuma, temos de nos esforçar para não perder de vista nossos principais objetivos.
Precisamos nos desapegar dos laços de comodismo que o trabalho impõe. E, nesse sentido, ninguém melhor para contar com a ajuda do que a pessoa que escolhemos para ter ao lado nessa jornada.
A carreira não deve ser pensada ou planejada como um projeto do indivíduo, mas sim como um projeto do casal.
E esse projeto não pode, de maneira alguma, ser dissociado dos planos de construção de riqueza da família, pois a carreira nada mais é do que um meio de adquirir nossa independência financeira.
De nada adiantará acumular riquezas e conquistar a tranquilidade da aposentadoria se, lá na frente, a única coisa a que você terá acostumado seu corpo e sua mente a sentir falta for o trabalho.
Um comentário:
estupendo, pq nos esquecemos disto.
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