CORREIO BRAZILIENSE - 27/02/12
No PMDB, existe quem pense em propor Gabriel Chalita como vice de Fernando Haddad em São Paulo, mas desde que o PT aceite de bom grado os candidatos que o PMDB propuser às presidências da Câmara e do Senado
Quem faz atletismo sabe que numa corrida de longa distância não adianta gastar toda a energia no começo. Vale mais um sprint final, com boas passadas ao longo de todo o período, do que aquela arrancada vigorosa que leva a perder o fôlego mais à frente. É mais ou menos assim que começa a disputa para a Presidência do Senado e da Câmara, o ponto que promete desestabilizar a relação PMDB-PT quase tanto quanto a campanha municipal, talvez até mais. E que ninguém se espante se as duas eleições terminarem interligadas.
Entre os deputados, Henrique Eduardo Alves, do PMDB, saiu com uma arrancada dessas de colocar em dúvida a capacidade de cruzar a linha de chegada. Desde o ano passado, posicionou-se no estilo “sou candidato e ninguém tasca”.
No Senado, existe uma série de movimentos em prol da candidatura do ministro da Previdência, senador Garibaldi Alves Filho, primo de Henrique. Garibaldi presidiu o Senado. É considerado um nome fácil de emplacar entre os pares e, se combinado com Dilma, ainda abriria uma vaga para um senador do PMDB no ministério. Garibaldi não tem arestas com os partidos, nem passou por um processo de desgaste como o atual líder do PMDB, Renan Calheiros, o candidato número um da cúpula do PMDB ao comando do Senado.
O problema de Renan é que alguns senadores consideram arriscado seu retorno porque pode trazer à tona todo o processo que ele enfrentou lá atrás, em 2007, quando ocorreu uma profusão de reportagens sobre seu patrimônio. E parte dos senadores não deseja reviver esse desgaste.
Por falar em desgaste...Por enquanto, os gestos pró-Garibaldi são tímidos. Mas se ganharem desenvoltura, formam o código para não só poupar Renan, como também tentar tirar Henrique Eduardo Alves do páreo. Nos bastidores já há quem diga que pega mal dois primos comandando o Congresso, um argumento frágil. Na verdade, seja dentro do Palácio do Planalto ou do próprio parlamento, o que muitos não desejam é dar espaço ao deputado Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro.
O último episódio envolvendo Cunha e Alves ainda está fresco na memória de muitos. Cunha bateu o pé para ser relator do Código de Processo Civil, sem ser advogado ou jurista. Como líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves bancou a indicação. A bancada com formação jurídica e a OAB estrilaram. Depois de muita pressão, o líder foi obrigado a voltar atrás na indicação.
Por falar em voltar atrás...Nem tudo está perdido para Henrique Eduardo Alves. Já existe no PMDB quem levante a seguinte hipótese: os peemedebistas apresentariam Gabriel Chalita como possível vice de Fernando Haddad em São Paulo, desde que o PT aceitasse de bom grado os candidatos que o PMDB propuser à presidência da Câmara e do Senado. Dado o nervosismo dos petistas paulistanos desde que José Serra entrou na disputa, há quem acredite que o PT acolherá essa proposta.
O problema é que a eleição do Senado ocorre três meses depois da municipal, tempo suficiente para ruir acordos. Num período até menor do que esse a prévia do PSDB em São Paulo perdeu o sentido.
Há ainda outros entraves nesse desenho. Primeiro, o PMDB, mais uma vez, adiaria o projeto de se apresentar ao eleitor com uma cara nova em troca de um jeito de alavancar integrantes da cúpula, sempre acusados de não ceder espaço à renovação. Em segundo lugar, Chalita já fechou acordos com outros partidos, está em campanha.
Mas para os políticos do PMDB está colocada a pergunta: o que vale mais? Se apresentar na eleição de São Paulo com um candidato ou garantir a presidência da Câmara e do Senado para o período da sucessão presidencial? É isso que estará em debate dentro do partido ao longo das próximas semanas.
Por falar em São Paulo...Ainda que José Serra tenha demorado a dar uma resposta, venhamos e convenhamos: desde que ele se colocou como possível candidato, dominou o noticiário a respeito da sucessão paulistana e ainda reduziu o tamanho de Fernando Haddad, que agora, precisa engajar Marta Suplicy e outros aliados na sua campanha. A caminhada de Haddad, segundo avaliam os próprios petistas, não será tão fácil quanto ele esperava. Esta campanha, como a dos presidentes da Câmara e do Senado, será uma corrida de resistência.
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