terça-feira, fevereiro 28, 2012
O inimigo do novo czar - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 28/02/12
Este é um ano eleitoral realmente intenso. No domingo, realizaram-se as eleições presidenciais no Senegal; daqui a dois meses, haverá eleições na França, onde Nicolas Sarkozy, o presidente que agora encerra o seu mandato, enfrentará o candidato socialista François Hollande. Um pouco mais tarde, em novembro, será a vez dos Estados Unidos. Mas no domingo, se realizarão as eleições presidenciais em um país não negligenciável, a Rússia. E a imprensa não está dando muita atenção ao fato.
Por que tanta discrição? Indubitavelmente, os jornais consideram que os resultados em um país no qual o governo tem em suas mãos todos os controles, já estão definidos de antemão. Nada de suspense. Vladimir Putin, que já foi presidente e ficou na reserva durante alguns anos, tornando-se simples primeiro-ministro de um presidente fantoche - Dmitri Medvedev -, será o escolhido no próximo domingo. E por uma margem considerável de votos: 63%, segundo as sondagens.
No entanto, é uma reação que merece ser observada. Embora não deva abalar o todo-poderoso Putin, ela indica um pequeno rasgo no tecido político russo. Um homem se expressou nos seguintes termos: "Putin ganhará, mas a democracia poderá triunfar". Quem diz isto? Não é uma voz comum, é a de Mikhail Khodorkovski.
Khodorkovski não tem medo. Este oligarca nascido na Rússia fantasma de Bóris Yeltsin, depois do colapso da URSS, tornou-se um dos homens mais poderosos do seu país por meio de negócios nos setores petrolífero e bancário. Putin só poderia derrubá-lo.
E o derrubou. Khodrokovski cumpre pena de 14 anos de cárcere por roubo, numa "colônia penal" da Carélia (o extremo norte glacial).
Feroz, Putin mandou que ele fosse posto no isolamento sob os pretextos mais ridículos, mas o homem não cede. Hoje, do fundo de sua "prisão de gelo", ele levanta sua voz. Uma voz lúcida, nobre, clara, que dá sentido a estas eleições de antemão perdidas pela oposição.
"Os países ocidentais", ele diz, "deveriam parar de fazer a dança do ventre diante de um cano de gás". E espera que, mesmo que Putin seja escolhido no primeiro turno, pela primeira vez a Rússia demonstre que o povo já não se ajoelha servilmente diante do sucessor dos czares do antigo Império Russo e dos secretários-gerais do Partido Comunista da União Soviética.
Khodorkovski, condenado a trabalhos forçados, será mais uma vez "condenado ao isolamento"? O é certo é que o espetáculo que hoje a Rússia nos proporciona, deixa entrever um vislumbre de esperança. No domingo passado, 30 mil moscovitas formaram em Moscou uma "corrente humana" abraçando a cidade nos 16 quilômetros do seu perímetro. Não era uma multidão barulhenta, provocadora, enlouquecida. Era uma multidão decidida, serena, quase alegre. O evento foi convocado sob a égide da cor branca. Cada um usava um item branco, uma fita, um balão, um xale ou uma echarpe. E, de tempos em tempos, nevava.
No dia seguinte às eleições presidenciais, 5 de março, portanto assim que Putin seja escolhido logo no primeiro turno, ou esteja em condições de se eleger no segundo, uma nova manifestação, mais significativa, mais vingativa submergirá Moscou. Sem dúvida, muito mais numerosa do que a de domingo. Os gatos e os cães, mesmo os brancos, terão de se esconder em suas casinhas ou em seus cantinhos aconchegantes.
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