O GLOBO - 08/02/12
O que interessa agora, porém, é que, mesmo se a gente admitir não ser o homem um bicho estranho, ele não deixa de assustar.
Às vezes é difícil aceitar que sejamos todos feitos do mesmo barro, isto é, de idêntica matéria-prima. Que semelhança pode haver entre o que somos e, por exemplo, o marido que matou a mulher a facadas e em seguida repetiu o gesto consigo próprio? Ou então, como nos identificar com os cinco celerados que massacraram um jovem que tentava impedir que eles fizessem o mesmo com um mendigo? Nessas horas de perplexidade, e para aliviar nossa indignação, costumamos alegar que se trata de "animais", como se alguma besta irracional fosse capaz de premeditar tanta crueldade gratuita e covarde. Não tive tempo de consultar minha psi favorita sobre o homicídio seguido de suicídio ocorrido em Belo Horizonte.
Matar a esposa a facadas, como fez o empresário mineiro, não chega a ser novidade num país de machismo violento. Em Belém, um homem esfaqueou 15 vezes a esposa e quatro vezes o filho. Depois, tentou se matar enfiando a lâmina no pescoço e no peito. No interior paulista, outro ciumento desvairado matou a mulher a facadas e em seguida golpeou o próprio pescoço e o tórax.
Socorrido, não resistiu aos ferimentos.
O que intriga no caso de Minas é a incrível persistência com que o assassino agiu contra si mesmo. Trancado sozinho num motel, ele se esfaqueou durante horas, desafiando a dor dos golpes e o instinto de conservação.
Produziu 28 perfurações no corpo até atingir um órgão vital. Para o homicídio, a motivação foi o ciúme doentio. Mas e para o suicídio, qual a explicação? Quanto aos cinco pitboys da Ilha do Governador, cuja covardia tanto chocou, há pouco o que falar, a não ser que se trata de um crime hediondo sem qualquer atenuante e com clara intenção de matar por perversa diversão, deixando a vítima em tal estado que precisou receber no rosto oito placas de titânio, 63 pinos e enxerto ósseo. Para que a punição seja exemplar, o mínimo que merecem é a pena máxima.
Para mostrar que a Justiça não perdeu credibilidade, o ministro Cezar Peluzo, presidente do STF, citou em discurso as demandas judiciais, que em 2011 teriam superado 23 milhões de sentenças. "Se não confiasse, (o povo) não acorreria ao Judiciário em escala tão descomunal", afirmou. Mas há controvérsia. Esta semana, a Fundação Getúlio Vargas publicou uma pesquisa em que 67% das pessoas consideram o Judiciário pouco ou nada honesto. Em confiança, ele ocupa o sexto lugar, atrás das Forças Armadas, Igreja Católica, MP, grandes empresas e imprensa escrita.
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