O Estado de S.Paulo - 08/02/12
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou, recentemente, que a produção física da indústria em 2011 havia acusado um aumento de apenas 0,3%, muito menos do que se pode esperar de um crescimento do PIB estimado entre 2,8% e 3%.Trata-se de uma taxa de aumento inferior não só à do PIB (o que significa queda de participação da indústria na formação do PIB), como à da própria população. No entanto, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o faturamento do setor teve aumento real de 5,1%, que certamente estará mais próximo dos dados sobre o crescimento das vendas varejistas.
Dada a grande diferença entre o aumento do faturamento real da indústria e o do volume produzido, a explicação mais plausível é de que a indústria passou a vender produtos cujo conteúdo importado é muito elevado e que o setor está, cada vez mais, se tornando apenas um montador de componentes produzidos no exterior.
A partir desse diagnóstico, é interessante examinar os resultados setoriais quanto ao faturamento real. De 19 setores incluídos no levantamento da CNI, apenas 9 apresentam aumento do faturamento real acima da média do setor (5,1%), com resultados bem diferenciados. Esses 9 setores são equipamentos de transporte, excluídos veículos automotores, com faturamento que cresceu 28,4%; material eletrônico e de comunicações (+20,6%); couros e calçados (+17,5%); produtos de metal (+13,2%); máquinas e equipamentos (+7%); produtos químicos (+6,7%); edição e impressão (+5,9%); veículos automotores (+5,5%); e máquinas e aparelhos elétricos (+5,4%).
São todos setores em que predominam as importações realizadas pela indústria, que se limitou a montar os produtos acabados. O setor mais ilustrativo é o de material eletrônico e de comunicações. Se examinarmos os setores que apresentaram piores resultados, encontramos alimentação (-0,4%); madeira (-1,9%); e têxteis (-9,2%) - justamente aqueles em que o Brasil tem um vantagem natural.
O setor industrial utilizou 80,6% da sua capacidade de produção em dezembro, ante 79,4% no mesmo período de 2010, um desperdício. As horas trabalhadas aumentaram 0,9%; o emprego, 2,2%; e a massa salarial, 5,2%; o que permite ocultar a grave crise que atravessa uma indústria que a cada ano importa mais para sustentar uma atividade em que os salários estão muito altos. Isso torna os produtos nos quais há muito conteúdo importado ainda mais caros do que nos países de origem. Cabe, pois, ao governo estudar uma política industrial que livre a produção nacional dessa armadilha.
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