Uma ilha e suas pontes - MAURÍCIO GUEDES

O GLOBO - 27/01/12


Uma nova ponte ligando a Ilha da Cidade Universitária ao continente está sendo inaugurada. Com um desenho premiado do arquiteto Alexandre Chan, a nova ponte vai beneficiar não apenas as 60 mil pessoas que lá estudam, trabalham ou recebem atendimento hospitalar. Vai ajudar a desatar um nó que se forma com frequência nas proximidades do Hospital Universitário, ponto de passagem obrigatório dos que transitam pela Linha Vermelha ou se dirigem à Ilha do Governador, inclusive ao Aeroporto Tom Jobim.

Construída como parte do programa de recuperação do Canal do Fundão, a ponte será um marco e servirá como um alerta à sociedade, em um local marcado por um erro ambiental do passado. Na década de 50, por uma causa nobre - a construção do campus da Universidade do Brasil - foi aterrado um arquipélago com oito ilhas que ali existiam.

Esta ponte, no entanto, não é a única, nem a mais importante que está sendo construída. No fim de 2009, o Conselho Universitário da UFRJ aprovou um Plano Diretor para 2020, que prevê, entre outras metas, um importante aumento no número de alunos, novos mecanismos de democratização do acesso à universidade e grandes mudanças na infraestrutura urbana do campus da Cidade Universitária. Um dos principais pilares do plano é o conceito da dupla integração: uma UFRJ mais integrada tanto interna como externamente - à cidade, ao estado e ao país.

A construção de uma relação transformadora com a sociedade faz parte das atribuições constitucionais de uma universidade brasileira e deve incluir, necessariamente, as empresas. Uma das expressões desta maior integração da Ilha do Fundão à cidade tem sido a atração de centros de pesquisas de empresas para se instalarem neste ambiente de conhecimento e inovação. As relações que irão se estabelecer entre essas empresas e os grupos acadêmicos da UFRJ e de outras universidades e centros de pesquisas trarão grandes oportunidades para a valorização da atividade acadêmica e um processo sustentável de geração de emprego e renda na cidade.

Muitas empresas mundialmente conhecidas, de variados setores, já fazem parte deste processo. A pioneira foi a Petrobras, que chegou ao Fundão com o seu centro de pesquisas no início dos anos 70. Outras grandes virão, especialmente para uma parte da ilha que pertencia ao Exército e está sendo adquirida pela prefeitura do Rio e pelo governo do estado. O Comando Militar do Leste tinha planos de construir ali prédios residenciais para oficiais, mas reconheceu que esta não era a verdadeira vocação daquela ilha.

O elenco de grandes corporações com unidades voltadas para a geração de conhecimento que está se instalando no Rio de Janeiro por si só seria motivo de orgulho para qualquer cidade e fator relevante para a atração de novos investimentos, mas, no longo prazo, as verdadeiras estrelas deste processo serão as pequenas empresas. Principalmente empresas criadas por brasileiros que tiveram a oportunidade de acumular um capital intelectual em boas universidades, muitos deles com cursos de mestrado e doutorado, e que têm optado pelo desafio de transformar esse conhecimento em bens e serviços para a sociedade, gerando emprego para milhares de outros brasileiros. Temos hoje no Parque Tecnológico da UFRJ 25 empresas de pequeno porte, entre as nascentes na Incubadora de Empresas da COPPE e outras instaladas em prédios de uso compartilhado. O plano é abrir espaços para mais uma centena de pequenas e médias empresas, e para isto estamos trabalhando com o Sebrae-RJ no projeto de um edifício que deverá se chamar Torre da Inovação.

Parece que finalmente existe hoje no país um consenso sobre a importância de ciência, tecnologia e inovação, e está sendo superada uma disputa inútil, que mobilizou alguns grupos do mundo empresarial e acadêmico nos últimos anos, sobre o protagonismo no processo de geração de inovações tecnológicas. Na realidade, nos dias de hoje, a responsabilidade pela construção desta capacidade de inovação não é apenas das empresas ou das universidades, mas principalmente das pontes que se construam entre elas.