O Estado de S.Paulo - 27/01/12
A demissão do diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), Elias Fernandes, não é um fato que em si vá contribuir ou influir no desgaste das relações entre o PMDB, o governo e o PT.
Inclusive porque o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, só faltou pedir que a presidente Dilma Rousseff apressasse a demissão ao se referir a ela em tom de desafio para defender o apadrinhado, abraçar uma causa ruim e resguardar interesses paroquiais.
Ontem de manhã a avaliação era a de que o deputado cometera um erro estratégico ao duvidar que Dilma bancasse a demissão ao custo de arrumar briga "com metade da República, com o maior partido do Brasil".
No tom, no método e no mérito do caso, Henrique Alves não contou com o respaldo do partido. Mas expressou a insatisfação crescente não só no PMDB, mas também em legendas com menos poder de vocalizar descontentamentos, como PR e PP, com a adoção de pesos e medidas diferenciados no trato dos partidos aliados.
O problema é mais amplo: diz respeito ao que é visto como a execução de um plano para fortalecer a hegemonia do PT, proteger quem atenda aos interesses desse projeto e enfraquecer os que possam representar alguma ameaça ou almejem algo mais que o papel de meros coadjuvantes.
Isso tanto no cotidiano do governo como nas disputas eleitorais que se avizinham. Com exceções aqui e ali, o PMDB e adjacências enxergam nos movimentos do PT a intenção de coagir os partidos da base governista a marchar com os candidatos do partido em detrimento das postulações dos aliados.
O sentimento é o seguinte: fortalecida pela popularidade, Dilma trata os parceiros com pragmático desdém. Recorre a eles quando precisa "blindar" ministros considerados intocáveis sob a ótica do Planalto, mas não age da mesma forma na contrapartida. Ao contrário. Aproveita ocasiões em que as suspeitas recaem sobre o lado mais fraco para firmar imagem de austeridade.
E avança no terreno político eleitoral, onde teoricamente não transitaria por temperamento e falta de vocação.
O PMDB ainda está engasgado com a ação de Dilma em favor da candidatura de Fernando Haddad a prefeito de São Paulo na inauguração de uma creche em Angra dos Reis (RJ). Por dois motivos: fez a saudação em Estado governado pelo partido e simplesmente ignorou que o PMDB tem candidato (Gabriel Chalita) na capital paulista.
O estresse cresce, mas o governo ainda conta com larga margem de vantagem porque os insatisfeitos não têm saída.
Se alguém nessa altura já estivesse se movimentando de forma clara como alternativa de poder - citados Eduardo Campos e Aécio Neves, como exemplos - a história da ruptura entre PT e PMDB estaria hoje em andamento.
Não sendo o caso, existe apenas como hipótese remota, mas existe.
Petrobrás. A gerência de imprensa e comunicação social da Petrobrás envia mensagem para apontar "um erro grave", uma "mentira inadmissível" em nota sobre a intenção do ex-presidente Sérgio Gabrielli de deixar a empresa só depois do carnaval, quando poderia tirar proveito dos patrocínios dados a blocos e trios de Salvador como postulante a candidato ao governo da Bahia.
E qual o erro grave, a mentira inadmissível? A afirmação de que equipe da sucessora de Gabrielli na Petrobrás tenha feito levantamento daqueles patrocínios. Pois bem: não há equipe de transição nem trabalho de apuração de financiamentos.
No mais, a gerência confirma o patrocínio de blocos e trios de Salvador, mediante "análises técnicas e jurídicas", com o objetivo de "valorizar e ampliar o conhecimento sobre o carnaval baiano, além de expor a marca, reforçando a imagem da Petrobrás como maior patrocinadora da cultura brasileira".
A nota não discutia a metodologia da Petrobrás. Apenas indicava que Gabrielli poderia tirar dividendos políticos se circulasse no carnaval na dupla condição de presidente da empresa patrocinadora e aspirante aos votos baianos. E sobre esse ponto a gerência nada comenta.
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