No furor da disputa por cargos, líder peemedebista eleva o tom com a presidente Dilma Rousseff e perde a parada -mas não a vaga
A classe política vai aprendendo que desafios públicos à autoridade da presidente Dilma Rousseff não costumam ter bom desfecho. A mandatária ganhou aprovação com a fama de inflexível e parece determinada a mantê-la.
Em novembro do ano passado, o então ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), negou com audácia sua iminente demissão: "Para me tirar, só abatido a bala". Pouco depois, saiu do ministério, sem que se registrassem estampidos na base governista do Congresso. É a vez do líder da bancada peemedebista na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), elevar o tom diante das denúncias contra o ocupante de um dos postos cedidos pelo PT ao seu partido.
Segundo a Controladoria-Geral da União, R$ 192 milhões foram desviados do Departamento Nacional de Obras contra as Secas. Legendário ponto de encontro entre coronelismo, ineficiência e corrupção, o Dnocs estava sob a direção de um afilhado de Alves.
O líder peemedebista toma, então, a defesa do feudo que lhe querem arrebatar. "O governo vai brigar com metade da República, com o maior partido do Brasil?"
A declaração de Alves revela o cerne da mentalidade dominante nos partidos brasileiros. "Metade da República", disse ele, referindo-se aos peemedebistas enquistados nos centros do poder.
Se algo merece ser chamado de República, não é a colcha de retalhos que, por indicações personalistas e fidelidades clandestinas, recobre a máquina federal. Excluí-das as raras nomeações que se fazem por critérios técnicos, sobe a bem mais da metade a extensão daquilo que valeria chamar de "setor antirrepublicano", ou "banda podre", dos governos que se sucedem em Brasília.
"Por que", pergunta o líder da bancada peemedebista, a presidente iria "brigar com isso?"
É certo que parte da popularidade da presidente pode ser atribuí-da à mística da "faxina" que, esporadicamente, tem sido compelida pelas evidências a empreender. Uma visão menos providencialista e ingênua apontaria que a relação entre governo e PMDB, apesar dos atritos ocasionais com o PT, é marcada pela acomodação.
Ungida no cargo por seu antecessor, Dilma procura afirmar sua autoridade própria. Para cada assessor acusado de corrupção que venha a demitir, como o recém-defenestrado do Dnocs, novos aspirantes ao cargo, e às benesses correlatas, estão prontos a jurar-lhe fidelidade. Dentro de partidos como o PMDB e o PT, lutas internas constantes dão margem ampla para as escolhas presidenciais.
A verdadeira República, que não é composta de metades peemedebistas ou petistas, acompanha não sem algum prazer a ronda de ciúmes e amuos entre um e outro dia de faxina. Satisfação completa, no entanto, virá no dia em que a presidente confrontar também os padrinhos, não só a legião de apadrinhados sob suspeita.
Em novembro do ano passado, o então ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), negou com audácia sua iminente demissão: "Para me tirar, só abatido a bala". Pouco depois, saiu do ministério, sem que se registrassem estampidos na base governista do Congresso. É a vez do líder da bancada peemedebista na Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (RN), elevar o tom diante das denúncias contra o ocupante de um dos postos cedidos pelo PT ao seu partido.
Segundo a Controladoria-Geral da União, R$ 192 milhões foram desviados do Departamento Nacional de Obras contra as Secas. Legendário ponto de encontro entre coronelismo, ineficiência e corrupção, o Dnocs estava sob a direção de um afilhado de Alves.
O líder peemedebista toma, então, a defesa do feudo que lhe querem arrebatar. "O governo vai brigar com metade da República, com o maior partido do Brasil?"
A declaração de Alves revela o cerne da mentalidade dominante nos partidos brasileiros. "Metade da República", disse ele, referindo-se aos peemedebistas enquistados nos centros do poder.
Se algo merece ser chamado de República, não é a colcha de retalhos que, por indicações personalistas e fidelidades clandestinas, recobre a máquina federal. Excluí-das as raras nomeações que se fazem por critérios técnicos, sobe a bem mais da metade a extensão daquilo que valeria chamar de "setor antirrepublicano", ou "banda podre", dos governos que se sucedem em Brasília.
"Por que", pergunta o líder da bancada peemedebista, a presidente iria "brigar com isso?"
É certo que parte da popularidade da presidente pode ser atribuí-da à mística da "faxina" que, esporadicamente, tem sido compelida pelas evidências a empreender. Uma visão menos providencialista e ingênua apontaria que a relação entre governo e PMDB, apesar dos atritos ocasionais com o PT, é marcada pela acomodação.
Ungida no cargo por seu antecessor, Dilma procura afirmar sua autoridade própria. Para cada assessor acusado de corrupção que venha a demitir, como o recém-defenestrado do Dnocs, novos aspirantes ao cargo, e às benesses correlatas, estão prontos a jurar-lhe fidelidade. Dentro de partidos como o PMDB e o PT, lutas internas constantes dão margem ampla para as escolhas presidenciais.
A verdadeira República, que não é composta de metades peemedebistas ou petistas, acompanha não sem algum prazer a ronda de ciúmes e amuos entre um e outro dia de faxina. Satisfação completa, no entanto, virá no dia em que a presidente confrontar também os padrinhos, não só a legião de apadrinhados sob suspeita.
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