FOLHA DE SP - 06/01/12
Alguns motivos davam suporte a essa crença. Diferentemente da maioria das indústrias, que, uma vez instaladas, passam a ter uma capacidade constante, a produção de um campo de petróleo sofre um declínio natural até o esgotamento de suas reservas.
Por outro lado, a avaliação do potencial petrolífero mundial era baseada nos paradigmas existentes àquela época, algo que acabava não computando uma enorme quantidade de oportunidades para o aumento das reservas petrolíferas.
Com o fortalecimento do cartel formado pelos países exportadores nos anos 1970, o preço do petróleo subiu, novas tecnologias passaram a ter o seu uso viabilizado e, apesar da enorme produção acumulada desde então, hoje temos reservas conhecidas em maior quantidade do que naquela época.
Os fatores que contribuíram para essa situação foram diversos. Alguns métodos especiais visando a recuperação de uma maior parcela do volume de óleo existente nas jazidas começaram a ser empregados em larga escala, alongando a vida produtiva dos campos de petróleo.
Outra mudança ocorrida foi a intensificação da exploração em bacias sedimentares marítimas. Inicialmente focada em águas rasas, a exploração marítima foi se estendendo com o uso intensivo de novas tecnologias até águas ultraprofundas, algo com que nem se sonhava há 30 anos. A produção mundial em águas profundas, hoje já de 2,8 milhões de barris por dia, deverá atingir 9 milhões em 2020.
No início dos anos 1980, depósitos de "tar sands" (areias betuminosas) localizados na província de Alberta, no Canadá, praticamente a céu aberto, começaram a ser aproveitados em um processo que muito mais parece mineração do que produção convencional de petróleo.
Hoje, a produção dessas jazidas é de 1,5 milhão de barris por dia, equivalente a três quartos de toda a produção brasileira. Se formos levar em conta as previsões para os próximos dez anos, a produção canadense deverá crescer mais 2 milhões de barris por dia, basicamente fruto do aumento da produção desses "campos de petróleo".
No entanto, talvez a maior revolução venha dos EUA. Apesar de ter tido sempre a indústria petrolífera mais ativa do mundo e de as bacias sedimentares americanas já terem sido intensamente exploradas, lá se vivencia um novo ciclo de desenvolvimento e de prosperidade.
Desta vez, o alvo são rochas sedimentares de grãos muito finos chamadas de "shale", impregnadas de gás e óleo muito leve. Mediante a aplicação de processos que envolvem a perfuração de poços que atravessam essas camadas horizontalmente associados à injeção de fluidos a altíssimas pressões, essas rochas são fraturadas e permitem que os poços passem a ter produções comercialmente viáveis. Esses tipos de rocha ocorrem em uma gigantesca extensão areal, atravessando diversos Estados americanos.
O consumo anual de gás nos EUA é de 22,5 TCF (trilhões de pés cúbicos) e as estimativas atuais são de que os EUA tenham mais de 2.500 TCF de reservas potenciais, ou seja, essa nova "descoberta" permitirá que o país tenha 110 anos a mais de suprimento local de gás.
O número de sondas de perfuração nos EUA voltou a crescer em 2011 e o ano fechou com 1.860 delas em atividade (o número total em todo o resto do mundo foi de 1.600).
Os indicadores associados aos projetos de "shale" são impressionantes. O número de empregos gerados por esses projetos foi de 600 mil em 2011 e deverá crescer para 870 mil até 2015. Já a contribuição para o PIB americano deverá passar de US$ 76 bilhões para US$ 118 bilhões em igual período. E já existem aqueles que projetam que a partir de 2020 os EUA poderão retornar ao status dos anos 1970, quando eram os maiores produtores globais de óleo e de gás natural.
Na realidade, o petróleo está longe de ser um recurso finito para as próximas gerações; seu poder de geração de riquezas é enorme e fomentar a sua indústria, uma decisão acertada.
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