Folha de SP - 06/01/12
Meu neto João Ruy, que tem seis anos e mora em Lisboa, me pediu que, quando fosse visitá-lo, lhe levasse um apontador de lápis, daqueles de afixar à mesa, com um buraco para enfiar o lápis e uma manivela para girar a lâmina. Não sei de onde tirou essa ideia, mas achei ótima. Se me pedisse uma Superball nº 5 -uma bola de couro, de gomos costurados, contendo câmara de ar de pneu e biqueira-, eu teria de dar um pulo aos anos 50 para lhe conseguir uma.
O apontador de lápis foi fácil. Bastou encomendá-lo numa papelaria mais sofisticada e, em poucas semanas, eles acharam um modelo bem parecido -e não entenderam quando, delicadamente, dispensei um equivalente elétrico, muito mais prático e moderno, que tentaram me empurrar.
Lembro-me da primeira vez que vi um daqueles apontadores. Foi num filme em cinemascope, com Lauren Bacall ou Gloria Grahame. Para quem apontava seus lápis com gilete, ele me pareceu a última palavra. Não descansei enquanto não ganhei um, de plástico vermelho e manivela de metal, embora, já então, escrevesse à máquina quase tudo que tinha de escrever.
E é o que me intriga. Para que servem lápis ou apontadores nesta nossa era de smartphones, tablets, Androids, Siris e outras geringonças de que ouço falar e às quais só eu ainda não aderi e passo perfeitamente sem?
Não sei. Só sei que, outro dia, sem querer, criei um problema para o sistema eletrônico de composição desta coluna, ao sugerir que os sobrenomes dos escritores tchecos Karel Capek e Jaroslav Haek levassem aquele circunflexo invertido -Capek, Haek- que faz com que se pronunciem tcha-pek e ha-jek. Apesar de seus fabulosos recursos, o sistema levou horas para conseguir criar os simbolinhos. O que qualquer lápis, mesmo no cotoco, faria em dois segundos.
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