A crise na zona do euro não afetou até agora o comércio entre o Brasil e a União Europeia. No ano passado, o Brasil exportou mais 22,7% e o superávit aumentou 6,1%. Isso pode mudar se nada for resolvido quanto à dívida soberana, que se discute há quase dois anos, e se a recessão se intensificar. Mas, por enquanto, não há sinais de desaceleração mais forte no comércio bilateral.
São números oficiais e definitivos divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, todos positivos para o Brasil. Eles surpreendem por dois motivos: a economia europeia não só está em forte desaceleração - deve ter crescido pouco mais de 1%- e, principalmente porque a Europa não está importando só produtos básicos, mas industrializados também.
A pauta mudou. Ao analisar esses números para a coluna, a secretária de Comércio Exterior do ministério, Tatiana Lacerda Prazeres, ressalta que "os produtos industrializados responderam pela metade das exportações brasileiras destinadas ao bloco europeu", contrastando com outros parceiros, inclusive os Estados Unidos.
É um comércio bilateral mais equilibrado que favorece a indústria nacional. Tatiana aponta que das exportações para o bloco europeu, 35,7% foram manufaturados e 14,2% de semimanufaturados. Uma tendência que vinha desde 2010 e se acentuou no ano passado. A União Europeia é hoje o segundo destino das exportações brasileiras de produtos industrializados, com vendas no valor de US$ 25,4 bilhões, o que representou 19,8% das exportações totais do setor que foram de US$ 128,3 bilhões.
O bloco ficou atrás somente de América Latina e Caribe,com exportações de industrializados de US$ 43 bilhões.
Ressalva. "Esses números mostram que a relação comercial com a União Europeia foi especialmente positiva em 2011 para o Brasil, em particular quando se leva em conta o contexto da crise econômica internacional.
Ainda assim, é importante registrar que o ritmo de crescimento das exportações para a Europa diminuiu 8,7% em comparação com igual período do ano anterior, o que nos leva a observar com interesse os desdobramentos da crise europeia e com preocupação sobre o seu impacto no fluxo comercial", diz Tatiana à coluna.
Urgência. Em reunião com o ministério, a presidente Dilma afirmou que há urgência para aumentar as exportações, principalmente, de produtos industrializados que criam mais empregos.
Exigiu da equipe econômica, Ministérios da Fazenda, Relações Exteriores, Banco do Brasil e BNDES propostas urgentes, para mais financiamento, dinamização do Proex e do Fundo de Financiamento às Exportações, aprovado pelo Congresso no fim do ano passado. E não é para março ou abril, mas em dez dias, na primeira semana de fevereiro, afirmou a presidente na reunião ministerial. O comércio com a UE vai bem, mas a forte desaceleração econômica do bloco, que se acentua, poderá anular os efeitos positivos da recuperação dos Estados Unidos, registrada nas últimas semanas. É um risco que, de acordo com Dilma, o governo está decidido a evitar.
Comércio bilateral também.
O comércio bilateral, importações e exportações, também não sentiu ainda os efeitos da crise na zona do euro. Ao contrário, aumentou nada menos que 20,8%, totalizando US$ 99,4 bilhões.
As importações brasileiras cresceram 18,6% no ano passado, mas as exportações aumentaram mais, 22,7%. Isso proporcionou um aumento de mais de 60% no superávit comercial que passou de US$ 4 bilhões para US$ 6,5 bilhões.
No ano passado, 8.203 empresas haviam exportado para a União Europeia e 22.402 importado o que se pode explicar pela maior facilidade que as pequenas e medias empresas têm para comprar do que vender, um processo ainda complicado.
O que eles compram? De tudo, principalmente produtos industrializados, informa o Ministério do Desenvolvimento (a lista completa está em www.mdic.gov.br.). Mas a liderança continua sendo minério de ferro e concentrados US$ 5,7 bilhões e 13,3% do total das exportações E os alimentos? Pesam, mas nem tanto. Os de sempre, tendo a frente o café cru em grão, US$ 2,8 bilhões, Neste item, os europeus estão importando grão e fabricando café solúvel e já se chegou a dizer, com alguma ironia, que eles "podem se tornar os maiores produtores de café do mundo... A pauta de commodities agrícolas não mudou muito nos últimos anos e também não ganhou mais peso.
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