quinta-feira, janeiro 26, 2012
Kassab, a esfinge - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 26/01/2012
Algo crucial para o prefeito é não estar fora do segundo turno da eleição paulistana, seja como padrinho da vitória, ou como seu parceiro desde o início. Do jeito que joga hoje, criando laços com todos os partidos, trabalha para estar nesse barco vencedor, seja ele qual for
Vale parar e observar o jogo do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Ele é, no momento, quem reuniu mais cartas para jogar na eleição do sucessor. O prefeito não tem apoio popular capaz de mover montanhas — ontem enfrentou manifestantes ao sair da missa de ação de graças pelo aniversário da cidade. Mas tem em mãos várias opções. Como disse o vice-presidente da República, Michel Temer, só o prefeito para reunir tanta gente "diferenciada". Na festa comandada por Kassab, coube quase todo o espectro da política brasileira. Estavam ali todos os ensaios que ele faz para a prefeitura paulistana, além da Igreja e do Judiciário, braços importantes da vida pública.
No mundo ideal, Kassab queria reunir os "amigos" presentes àquela festa em torno da candidatura de Guilherme Afif Domingos, do PSD, dando aos tucanos o direito de indicar o candidato a vice. Em troca, Kassab adiaria o projeto de concorrer ao governo do estado em 2014 e se colocaria como candidato a vice de Geraldo Alckmin, quando o tucano for concorrer à reeleição, ficando assim "na boca" para 2018. Só nessa condição Kassab se renderia aos projetos de Alckmin, se for o atual governador o grande mentor da candidatura tucana a prefeito, o que até agora não está claro.
A única forma de Kassab apoiar "de graça" os tucanos, ou seja, sem exigir nada em troca em relação ao futuro, é se o candidato for José Serra. Como Serra não se move — e nem Alckmin dá sinais de que está disposto a ter Kassab na vice —, o prefeito joga o capital político adquirido com seu o novo partido em favor de outros atores. O mais visível é Fernando Haddad, ungido por Lula. Mas, ainda assim, não é o jogo mais atrativo para o prefeito.
A candidatura de Haddad é hoje o plano "C" de Kassab para a própria sucessão. O prefeito lutou para fundar o PSD, fazer dele um partido "independente" do governo Dilma Rousseff. Portanto, sabe que não pode, no primeiro movimento eleitoral de peso do PSD — caso da prefeitura de São Paulo —, correr para se aliar ao primeiro petista candidato que aparece na sua frente. Até porque Haddad ainda não disse a que veio.
O prefeito sabe que, se indicar o vice na chapa de Haddad, estará fadado a ficar em segundo plano na política paulistana. E o prefeito planeja ser peça-chave no jogo de 2014. Ao indicar um candidato a vice-prefeito para a chapa do PT à prefeitura, reduziria o seu poder de fogo. Portanto, essa hipótese é considerada remota, embora não seja totalmente descartada diante das opções em estudo pelo PSD.
Por falar em peça-chave...
O único ator que se mantinha imperceptível até ontem no jogo de Kassab era o PMDB. Ao colocar Michel Temer como responsável pela distribuição das medalhas na cerimônia de ontem, o prefeito tratou de estender a mão ao padrinho da candidatura de Gabriel Chalita (PMDB-SP). Atualmente, Kassab não descarta sequer essa possibilidade de aliança. Afinal, Chalita, se não estiver no segundo turno, será fundamental para quem chegar lá. Por isso, o deputado peemedebista é cortejado tanto por Kassab quanto pelo PT de Haddad. E não está afastada a hipótese de, passando a um segundo turno, Chalita obter ainda um apoio dos tucanos capitaneados por Alckmin.
Ciente dessa possibilidade, Kassab tratou de aproximar o PMDB do seu quintal. Afinal, se tem algo crucial para o prefeito é não estar fora do segundo turno da eleição paulistana, seja como padrinho da vitória ou como seu parceiro desde o início. Do jeito que joga no momento, ele estará nesse barco vencedor, seja qual for. E errará feio quem subestimar as qualidades políticas de Kassab. Afinal, ele comanda a terceira maior máquina arrecadadora do Brasil. Do nada, fundou um partido que tem hoje quase 50 deputados. E montou tudo isso mantendo laços com os tucanos, se aproximando do PSB, do PT e, agora, do PMDB. A esfinge da mitologia tinha cabeça humana, corpo de leão e asas de águia. Se observamos a forma política do PSD, veremos que não é muito diferente, guardadas as devidas proporções. Kassab vive hoje o seu momento de "decifra-me ou devoro-te". Resta saber por quanto tempo terá condições de surfar nessa onda. Afinal, na política, elas não são eternas e, se Kassab optar pela canoa errada, corre o risco de perder tudo, assim como aconteceu com o DEM. Mas essa é outra história.
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