FOLHA DE SP - 04/01/11
BRASÍLIA - Países como o Brasil e a Rússia têm, historicamente, pouco ou nada realmente em comum. Foram jogados na sopa de letrinhas do Brics como nações em que valia a pena ao mercado ficar de olho lá no começo da década passada, mas as intersecções reais sempre foram bem escassas.
No fim de 2007, voltei ao gigante eurasiano para tentar fazer um balanço da era de Vladimir Putin no poder (então presidente, depois premiê e, agora, candidato novamente ao cargo máximo).
Havia problemas, mas o país estava em bem melhor forma do que na minha primeira visita, em 2000.
Escrevi sobre a mansidão da massa nos centros urbanos, ascendendo para um patamar de classe média europeia com apatia política proporcional. Putin tolhia liberdades quase sob aplausos.
Em coluna sobre o tema, Clóvis Rossi viu, no relato, similaridade entre o caráter bovino de lá e o de cá.
Muita coisa mudou nesses últimos anos. Longe de imitar patacoadas da franquia "Occupy", que duram o quanto a CNN lhes conceder, em Moscou e em São Petersburgo a letargia foi sacudida.
Não que Putin vá perder a eleição de março, mas ficou claro ao Kremlin que concessões como a volta dos pleitos para governadores são necessárias antes que alguém possa personificar o descontentamento.
É um começo.
Já no Brasil, bem, aqui também houve avanços. Mas as chuvas já começam a sua colheita anual de mortos, ministros caem e ninguém pergunta quem os colocou lá, educação e saúde públicas avançam a passos de cágado.
Como na Rússia de 2007, o que interessa hoje é a sensação de bem-estar econômico -que é ótima, diga-se.
Mas é pouco. A sorte dos poderosos daqui é que a mansidão local parece ter um caráter bem mais atávico do que a dos nossos colegas de acrônimo inventado por gringo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário