FOLHA DE SP - 17/12/11
SÃO PAULO - Alguns médicos se queixaram da coluna na qual critiquei a lei que prevê a internação involuntária, que o governo quer utilizar em seu plano anticrack. Para eles, como o médico sempre pauta sua ação pelo bem do paciente, nem seria necessário reforçar as salvaguardas jurídicas dadas ao interno.
É possível, e até provável, que a maioria dos médicos observe o princípio da beneficência, mas daí não decorre que o sistema funcione, em especial no campo da psiquiatria.
Prova-o o célebre experimento conduzido por David Rosenhan em 1973, em que o psicólogo e sete associados, todos sãos, apareceram em diferentes hospitais psiquiátricos dos EUA queixando-se de ouvir vozes. Todos foram imediatamente internados. No hospital, passaram a agir normalmente e de modo cooperativo, dizendo que as vozes tinham sumido. Mas sair era mais difícil do que entrar. A estadia média foi de 19 dias (variando de 7 a 52).
A parte mais divertida é que, embora nenhum dos médicos e enfermeiros tenha notado que os pesquisadores não estavam doentes, 35 de um total de 118 pacientes perceberam. "Você não é louco. É jornalista ou professor", disse um interno.
E as coisas não acabam aqui. Ao tomar conhecimento de que Rosenhan preparava seu artigo, representantes de um hospital lhe escreveram dizendo que não cairiam num truque barato desses.
Rosenhan aceitou a provocação e escreveu de volta propondo um desafio. Nos três meses seguintes, ele enviaria ao hospital um ou mais pseudopacientes, que a instituição deveria identificar como tal. Dos 193 internos admitidos no hospital no período, 41 foram classificados como impostores e 42 como possíveis fraudes. Só que Rosenhan blefara e não havia mandado nenhum confederado seu. "Está claro que não conseguimos distinguir os sãos dos insanos em hospitais psiquiátricos", concluiu o pesquisador.
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