REVISTA VEJA - SP
Se você perguntar qual é o meu lugar favorito em São Paulo, respondo na lata, sem pestanejar.
Gosto, é verdade, da Vila Madalena, da feira, dos bares, dos restaurantes e da livraria do bairro, de andar a pé por lá. Adoro o Estádio do Pacaembu e o Museu do Futebol, o edifício do Instituto Tomie Ohtake, tão magenta e bem-humorado, mas o meu lugar predileto é o Conjunto Nacional, na esquina da Paulista com a Augusta.
Sempre foi. São Paulo é, para mim, uma cidade intelectual. Isso eu tenho em comum, acredito, com muitos que vieram de alhures, do interior, de outros estados e países. Não são poucos os pontos bacanas Brasil afora. Mas é em São Paulo que a cultura acontece. É a cidade da vanguarda desde o modernismo, em 1922. Quem quer participar da vida cultural do nosso país, quem quer ser escritor, artista, jornalista, cineasta, pintor, publicitário ou poeta costuma ter como objetivo viver aqui pelo menos em algum momento da vida.
Nisso, eu não fui diferente. Apaixonei-me pela cidade durante um ano de intercâmbio na Universidade de São Paulo, entre 1979 e 1980. Consegui voltar para morar em 1984, sozinho. A primeira coisa que fiz, depois de instalado no apartamento do meu amigo José Carlos, ali, atrás do Masp, foi passar no Conjunto Nacional para buscar novidades na Livraria Cultura.
Achei o romance "Tanto Faz". Amei. Fiquei amigo do autor, Reinaldo Moraes, meu grande chapa até hoje, e, através do Rei, de todo tipo de intelectual e escritor e artista em São Paulo. Ou seja, realizei o meu sonho de viver a cultura latina, vanguardeira e terceiro-mundista graças, em parte, ao Conjunto Nacional.
E, convenhamos, é um shopping interessante. A arquitetura é puro anos 50. O pé-direito é altíssimo. É dominado pela Livraria Cultura, que vai se espalhando por lojas e mais lojas. Tem um café na entrada e também o Instituto Moreira Salles, de fotos, livros e ilustrações chiques, uma galeria de arte com exposições interessantes e um cinema que passa basicamente filmes de Woody Allen. O que mais poderia pedir eu? É uma espécie de Galeria do Rock — outro ponto paulistano fantástico — para intelectuais. Há, ainda, uma ou outra loja de roupas e sapatos. Mas mais me parecem um pretexto para poder chamar aquilo de shopping. O negócio ali é cultura. Sapato é cultura?
Hoje, quando entro na Livraria Cultura e a vejo lotada, aquele povo todo na rampa, lendo, fico arrepiado. Entre lá no fim da tarde de sexta-feira para ver. Você mal consegue andar. É a melhor imagem do Brasil emergente: o consumo voraz associado à vontade de saber.
Como o Natal está próximo, resolvi oferecer uma lista de livros bons de dar de presente. O melhor que li em 2011 se chama "1493" e foi escrito pelo jornalista Charles Mann. Investiga as consequências biológicas da chegada dos europeus à América. 1493 ainda não saiu em português, mas o livro anterior de Mann, "1491", foi lançado pela Editora Objetiva. É quase tão bom quanto e uma ótima introdução à questão da globalização biológica.
Outra grande obra é a biografia de Steve Jobs escrita por Walter Isaacson. Jobs foi um chato, é verdade. Mas sua vida é fascinante e Isaacson é um gênio. Não consegui parar de ler. Oferece uma perspectiva única do significado dos nossos tempos.
Na ficção, recomendo "Liberdade", de Jonathan Franzen, e "Solar", de Ian McEwan. Os dois romances giram em torno de personagens ambientalistas e conseguem fazer refletir e rir — de dar gargalhadas — da situação ecológica atual.
Na crônica, adorei "Meio Intelectual, Meio de Esquerda", do meu amigo Antônio Prata. Amei também o único romance de Hunter S. Thompson, "Rum Diaries", que recebeu um infeliz título em português: "Diário de um Jornalista Bêbado". Mas o livro vale a pena. O filme entra em cartaz na cidade, com Johnny Depp no papel principal, no mês de janeiro.
Um feliz Natal para você e boas festas.
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