FOLHA DE SP - 07/12/11
RIO DE JANEIRO - Você os encontra em algumas clínicas de recuperação de dependentes químicos: homens e mulheres que entraram na droga muito cedo, levaram anos sob o seu domínio e, se tiveram a sorte de não morrer, conseguiram se recuperar e passaram a trabalhar nessas instituições como terapeutas. É bonito. Mas o fato é que, seja como usuários ou terapeutas, passaram a vida em função da droga. Não tiveram tempo para aprender outros prazeres, outros interesses -outra vida.Isso aumenta sua possibilidade de recaída. Conheci um, numa clínica perto de São Paulo, com esse exato perfil. Quando se soube que recaíra, as muitas pessoas que ele ajudou a tratar (e que o adoravam) ficaram mal -se um profissional com tanta experiência está sujeito a isto, significa que ninguém pode se sentir 100% a salvo. Inevitavelmente demitido, emburacou para valer.
Dois anos depois, conseguiu parar e ganhou nova oportunidade na mesma clínica. Mas, em pouco tempo, voltou a recair e, desta vez, não houve tempo para nada. Morreu. Tinha talvez 40 anos.
Os meninos que cresceram em torno do tráfico nas favelas cariocas interpretam papéis parecidos. Seja como usuários, "formiguinhas" (passadores de pequenas quantidades) ou trabalhando na segurança das gangues, só conheceram a realidade da droga. Com a vitoriosa implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), seu modo de vida foi subitamente desarticulado.
Eles podem ter abandonado o uso ou a venda de drogas, mas é importante que as UPPs Sociais, encarregadas de reencaminhar esses jovens, não custem a lhes oferecer oportunidades reais de aprendizado e trabalho -em departamentos que não tenham nada a ver com seu antigo universo. Não basta tirar a droga do sistema deles. Há que substituí-la por algo diferente e melhor.
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