FOLHA DE SP - 07/12/11
Não surpreendeu a informação, divulgada ontem pelo IBGE, de que o PIB brasileiro se manteve estagnado no terceiro trimestre deste ano em comparação com o período anterior.
Desde abril de 2010, a produção da indústria vem perdendo vigor -e em meados deste ano também as vendas do varejo começaram a desacelerar de forma clara. Para completar, várias sondagens indicavam que os estoques industriais se acumulavam acima do nível desejado pelas empresas, levando-as a reduzir sua produção.
Essa combinação de fatores alimentou a expectativa, ora confirmada, de que o crescimento do país no período de julho a setembro seria bastante baixo -ou até mesmo negativo.
A desaceleração pode ser creditada, em boa parte, às medidas de política econômica adotadas desde fins do ano passado com vistas a arrefecer o ímpeto da demanda interna e, por essa via, conter o aumento da inflação.
A diminuição do volume de recursos à disposição dos bancos para fazer empréstimos, a partir de dezembro de 2010, e as seguidas elevações da taxa de juros básica contribuíram para que as operações de crédito apresentassem custo mais alto, prazos mais curtos e expansão mais lenta.
A contenção de gastos públicos, em grande medida concentrada em investimentos, e o reajuste mais baixo, naquele momento, concedido ao salário mínimo completaram a receita interna da desaceleração.
Na frente externa, o ritmo da economia foi afetado pelo agravamento da crise em países desenvolvidos, em especial na zona do euro. O aumento das incertezas no cenário mundial, ao que tudo indica, reforçou o efeito das decisões tomadas anteriormente, aumentando a cautela de empresas e consumidores.
As turbulências internacionais se prolongam pelo quarto trimestre -e, ao que tudo indica, não irão se dissipar tão cedo. No Brasil, a política econômica já mudou de prioridade: a taxa Selic cai desde o final de agosto e novas medidas de estímulo à demanda interna foram anunciadas.
Embora não seja possível antecipar com precisão o resultado dessas duas influências contraditórias -desaceleração global e estímulos internos- sobre a atividade econômica no Brasil, os números aventados pelas autoridades são bastante discutíveis.
Para fechar 2011 com alta de 3,2%, o PIB teria de crescer 1,5% no quarto trimestre, um ritmo forte, correspondente a pouco mais de 6% ao ano. Em 2012, para crescer 5%, como anuncia o ministro da Fazenda, o PIB teria de atravessar o ano a um ritmo quase chinês. Compreende-se a tentativa do governo de injetar otimismo no ambiente econômico -mas suas previsões são, sem dúvida, irrealistas.
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