O que o país colhe agora foi plantado ao longo dos últimos anos, em que a economia foi estabilizada, as contas foram ajustadas, o país passou a combater mais decididamente a pobreza e a miséria. Os economistas ingleses atribuem o avanço ao aumento das exportações do Brasil para a China e à elevação dos preços das commodities. É uma explicação reducionista. O boom das commodities é parte do crescimento do Brasil, mas não explica todo o desempenho do país.
Em 11 de novembro, fiz um programa na Globonews sobre a previsão de que o Brasil iria ultrapassar o Reino Unido este ano. No programa — que voltei a postar em meu blog ontem — o economista José Márcio Camargo previu novas mudanças no ranking nos próximos dois anos:
— Parte disso é crescimento mesmo, parte é resultado do câmbio mais forte, e parte é a crise da Europa. O continente ficará uma década com baixo ou nenhum crescimento, como o Japão. O Brasil está crescendo mais do que os países desenvolvidos e menos do que os emergentes. Isso fará com que a Índia nos ultrapasse em 2013, mas em 2014 vamos ultrapassar a França.
José Márcio acha que é preciso “cuidado com essa notícia” e recomenda não ficar eufórico. Lembra que o conceito mais importante de desenvolvimento tem a ver com o bem-estar; e que deve-se olhar também a renda per capita, indicador no qual o Brasil continua muito atrás da Inglaterra. No IDH, o Brasil está no 84º lugar do ranking de 187 países avaliados, enquanto o Reino Unido está em 28º.
O embaixador Marcos Azambuja, que ouvi também no programa de novembro sobre a previsão confirmada ontem, admitiu que, mesmo considerando o fato de que o PIB é apenas uma das medidas de desenvolvimento, ele estava com ânimo de comemoração:
— O Brasil ultrapassar o PIB do Reino Unido era algo impensável para a minha geração. Acho que o Brasil não sai mais dessa lista curta dos grandes países, pelas vantagens dadas pela demografia, pelos recursos minerais, pela capacidade de produção agrícola e pelo desenvolvimento de ciência e tecnologia que até recentemente não era um ponto forte.
Se reunirmos dois brasileiros para comentar essa notícia, um vai comemorar e o outro vai ponderar que é preciso olhar as outras medidas nas quais somos fracos. E os dois estarão certos. É claro que é motivo de comemoração, mas ao mesmo tempo é preciso pôr em perspectiva, relativizar.
O Brasil deve agora buscar a qualidade do desenvolvimento, para que o crescimento seja sustentado e sustentável. Precisa ser capaz de manter o ritmo da elevação do PIB, sem as oscilações que marcaram nossa história a partir da crise dos anos 1980. Também é fundamental garantir que o avanço não se fará de forma predatória do nosso patrimônio ambiental; nem negando a parcelas da população os frutos do progresso.
Nos anos 1970 o Brasil entrou num ritmo de crescimento acelerado e chegou à sétima posição, mas cresceu com aumento da desigualdade e desequilíbrios fiscais e monetários que elevaram a inflação. Esse crescimento excludente e inflacionário minou o processo de avanço e a economia voltou a ser apenas a 13ª . Nos últimos anos conquistamos um crescimento com estabilidade monetária, com mais equilíbrio nas contas públicas e com mais inclusão.
Há motivos para comemoração e preocupação ao mesmo tempo. O Brasil ainda tem 8,5% da população abaixo da linha da pobreza, ou seja, na miséria. Mas antes da estabilização os miseráveis brasileiros eram 23% da população. A queda dos últimos anos foi resultado de políticas públicas focadas e de maior dinamismo no mercado de trabalho.
Em PIB per capita, o Brasil está fraco, atrás dos países que tem superado, como Itália, Espanha e Reino Unido. Menor que outros países em crise na Europa. O PIB per capita do Brasil para este ano, pelas estimativas do FMI, será de US$12.916. Menos do que países da Zona do Euro que estão na lona, como Grécia US$27.875; Portugal, US$22.698; Irlanda US$48.516; Espanha, US$33.297 e Itália, US$37.046. Até mesmo a Islândia, que quebrou com a crise, tem um PIB per capita maior do que todos esses países, de US$43.226.
Esses números são relativos. A maioria desses países tem população pequena, o que resulta numa conta mais alta. Já países muito populosos tendem a ter um valor bem menor. A China, por exemplo, que tem o segundo maior PIB do mundo, tem um PIB per capita de US$5.186. De todo modo, a China de fato tem um enorme contingente de pobres nas áreas rurais, ainda que tenha feito um agressivo programa de inclusão social nos últimos anos.
Há várias medidas de progresso. Há estudiosos revendo as fórmulas de cálculo para aperfeiçoar o conceito diante dos novos valores da civilização. Não podemos esquecer fatos como: o Brasil chega ao grupo dos grandes sem ter erradicado o analfabetismo.
É bom comemorar a ultrapassagem da Inglaterra, mas tendo em mente o muito que ainda falta fazer.
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