SÃO PAULO - Dados do Censo 2010 divulgados na última semana revelam que a fecundidade no Brasil caiu para 1,86 filho por mulher.
Chama a atenção, em primeiro lugar, a grande velocidade com que o índice despencou. Meio século atrás, em 1960, ele era de 6,2. Isso significa que o Brasil fez em cinco décadas o que a Europa levou mais de cem anos para conseguir.
Como reduzir a fertilidade e, por extensão, a população não constitui um fim em si mesmo, é preciso analisar as implicações do fenômeno.
Vale observar que, embora o Brasil esteja com uma fecundidade inferior à taxa de reposição populacional, que é de 2,1, isso não implica uma diminuição abrupta do total de habitantes. A queda no número de filhos é, em geral, precedida por uma redução da mortalidade infantil e acompanhada de um aumento da expectativa de vida, resultando numa situação em que convivem até quatro gerações. A população do Brasil deverá crescer ainda até 2040, quando se projeta a inversão.
Na fase em que vivemos, ocorre também o que os especialistas chamam de janela demográfica, na qual a proporção de trabalhadores na ativa é mais alta, produzindo o enriquecimento da sociedade. Esse efeito explica parte da bonança econômica vivida nos últimos anos.
O problema é que essa janela não dura para sempre. Ela se fecha à medida que a coorte de idosos que já não trabalham vai ganhando preponderância. Os desafios aí são tentar manter a viabilidade dos sistemas de previdência e de saúde, bem como a riqueza material da sociedade.
Decisões antipáticas, como alterar (e para pior) o regime da aposentadoria, precisam ser tomadas. No limite, é preciso pensar em abrir o país
à imigração, outra medida impopular. Os obstáculos são tantos que a tendência é empurrar a encrenca para nossos filhos e netos. É pena, pois o atraso torna o problema mais difícil de administrar.
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