terça-feira, novembro 01, 2011

RODRIGO WOLFF APOLLONI - Cândido e o tonel de piche



Cândido e o tonel de piche
RODRIGO WOLFF APOLLONI
GAZETA DO POVO - 01/11/11

Quando, há algum tempo, fui convidado para es­­crever uma coluna semanal para esta Ga­­zeta do Povo, cogitei a possibilidade de não abordar temas relacionados à política brasileira. Ba­­sicamente, por não me sentir competente para tanto, em especial diante das muitas excelentes análises disponíveis em jornais e blogs. Política, de fato, jamais foi a minha praia, a não ser, talvez, a de outros tempos, da Antiga China ou da Revolução Francesa, que ocupa meu espírito em prazerosas leituras nos dias de chuva.

Ainda assim, nos últimos tempos me senti tentado a escrever sobre o tema. Para expressar um sentimento pessoal de desconfiança, repulsa e impotência. Não sei, aliás, se isso é escrever sobre política. Pelo menos, não deveria ser. Fa­­to é que o caso envolvendo o ministro dos Esportes – rocambole de pilantragem, ideologia cara de pau e alianças de governo pouco recomendáveis – foi a tardia gota d’água, e eu comecei a me sentir mergulhado em um tonel de piche.

Nesse processo, passei a desconfiar também da Copa do Mundo e da Olimpíada, dois dos eventos mais legais que um país pode conhecer. Se me perguntassem hoje, eu mandaria ambos às favas, imaginando a enormidade da incompetência e da corrupção presumivelmente envolvidas com sua consecução. E argumentaria observando, filosoficamente, que, antes de se arrumar para o mundo (com obras cuja produção não nasce do apelo popular, mas da localizada demanda dos eventos desportivos), um país deveria se arrumar para os seus.

Nesse vagalhão de niilismo, é claro, deixei de perceber os mi­­lhares de cidadãos honestos – operários, atletas e, mesmo, políticos – que estão trabalhando para que tudo corra bem; e sacrifiquei a saudável sensação de orgulho e felicidade que, desde já, contamina muitos de meus compatriotas.

É uma pena, principalmente porque não vejo, pelo menos no curto prazo, qualquer possibilidade de mudança. Não do Brasil, mas – coisa bem pior – de meu próprio olhar, que, de repente, passou a desconfiar de tudo, das ideias políticas à esfericidade da bola oficial da Copa.

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