SÃO PAULO - O bonito de apanhar políticos com a boca na botija é que eles se saem com explicações tão mirabolantes que valem por uma aula de psicologia. Flagrado em vídeo fazendo o que havia dito que não fizera, Lupi esclarece que não tem "memória absoluta".
O ainda ministro não é um caso isolado. Para Palocci, foram as liquidações antecipadas de contratos; José Roberto Arruda recorreu aos panetones; Renan Calheiros fez bons negócios com vacas; o "mensalão" virou "recursos não contabilizados"; até Collor bolou a engenhosa Operação Uruguai.
A quem eles pensam que enganam? Quem acredita nessas lorotas? E a resposta, ainda mais intrigante, é que os próprios políticos, ou ao menos parte de seus cérebros, acredita.
Um modelo para explicar essas extravagâncias é o da dissonância cognitiva, segundo o qual a mente procura sempre harmonizar suas cognições, isto é, pensamentos, sensações e memórias. Quando elas estão em conflito e percebemos isso, diz-se que estão em dissonância.
E o problema é que essas tais dissonâncias cognitivas são uma verdadeira tortura neuronal. Para evitar a dor da contradição, o cérebro simplesmente trapaceia. A fim de reconciliar as cognições, ele se utiliza do que estiver à mão. Valem truques bobos, como simplesmente fingir que não viu. Não é um acaso que um dos mais arraigados hábitos de políticos seja responder só o que lhes interessa, ignorando as perguntas difíceis.
Quando isso não é suficiente, linhas de defesa mais complexas são acionadas. Memórias podem ser suprimidas e alteradas. Cognições harmonizadoras podem ser criadas.
O detalhe é que a pessoa quer tanto acreditar na versão que lhe é mais favorável que, muitas vezes, não distingue suas próprias fabulações da mais dura realidade. Perde até mesmo a noção de quão esfarrapadas parecem suas desculpas a observadores que não estão em dissonância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário